O mito da terapia em dia
“O fato de alguém se consultar com um psicanalista ou um psicólogo semanalmente ou mais, não coloca essa pessoa numa posição de superioridade em relação aos “reles mortais”.
Como se fosse possível estar com nossos conflitos, complexos e sofrimentos sem nos incomodarem, deixando-os “em dia”.
Como se “terapia” fosse simplesmente um boleto a ser pago para ficarmos “em dia” com a gente. Como se “saúde mental” fosse um produto possível de ser comprado com sessões de analise ou psicoterapia.
Se tem uma coisa que uma experiência analítica ensina (e aqui vale destacar que estou falando da psicanalise e não das psicoterapias em geral, que não conheço), é justamente o impossível de estar com nossos conflitos “em dia”.
Em uma análise trata-se justamente de suportarmos essa falta de equilíbrio entre aquilo que se pede e aquilo que se recebe, entre aquilo que se diz e aquilo que se ouve do que se diz, entre aquilo que se pensa que queria e aquilo que se descobre que queria num tempo posterior.
O que se aprende em uma análise é o impossível de viver com as coisas “em dia”, porque os outros não param de demandar algo de nós – especialmente os outros que moram em nós, não param de nos demandar mais e mais coisas.
Arrisco dizer que só está com a “terapia em dia” quem não se envolveu em seu processo ou não avançou nele o suficiente para se encontrar com a radicalidade de um impossível de estar plenamente “em dia”.
No mais, sou uma entusiasta de quem puder e desejar, busque análise e nela avance – mas justamente para sair da posição de soberba em relação ao outro.”
Texto de Ana Suy
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