Solitude x solidão
Solitude x solidão
Texto escrito e publicado por Karina no site: Inconsciente coletivo, apenas tomei liberdade de copiá-lo.
Neste texto de Osho, traduzido por mim, ele fala
sobre o sentimento da solidão e porque a maioria das pessoas não
consegue vencê-lo. É tão comum ouvir pessoas dizendo sentirem-se sós,
mesmo em meio a uma multidão. O que é que provoca este tipo sensação?
Será o “estar sozinho” realmente um problema tão grande, algo a ser
evitado a todo custo? Você já percebeu que todos os grandes pensadores,
líderes e mestres, de todas as épocas e culturas, antes de se tornarem
grandes e influentes, se isolaram? Ou preferiram vidas
monásticas/eremitas/reclusas? Todos sacrificaram o social, para depois
retornar e contribuir para a melhora e evolução deste mesmo social (mais
ou menos como é definido no conceito do “monomito” – a jornada do
Herói, por Joseph Campbell). Henrik Ibsen disse que “O homem mais poderoso que há no mundo é o que está mais só.” Proust, por sua vez disse que “A amizade não é mais que uma mentira que nos faz acreditar que não estamos irremediavelmente sós.” Não poderia deixar de citar o sussurro de Roberta Sparrow, no filme cult (e altamente recomendável!) Donnie Darko, em que ela diz à Donnie, em seu ouvido: “cada criatura nesta terra morre sozinha“.
Isso tudo pode soar pessimista, ainda mais em uma sociedade em que se
preza tanto o estilo “maria-vai-com-as-outras”, onde todos pensam o
mesmo, fazem o mesmo, se divertem da mesma maneira – e acham que isso é
viver a vida (o que na minha opinião é o pior). Acho que nunca na
história da humanidade as aparências foram tão valorizadas, como nos
séculos XX e XXI. Da mesma forma, nunca o planeta foi tão populoso. E
mesmo assim, as pessoas se sentem, irremediavelmente, sós. Vejamos então, o que Osho diz sobre isso:
Eu sofro imensamente de solidão. O que posso fazer sobre isso?
A escuridão da solidão não pode ser
combatida diretamente. Isso é algo essencial que todos devem entender,
que existem algumas coisas fundamentais que não podem ser modificadas. E
este é um dos fundamentos: você não pode lutar com a escuridão
diretamente, com a solidão diretamente, com o medo do isolamento
diretamente. A razão é que nenhuma dessas coisas existe; elas são
simplesmente ausências de alguma coisa, assim como a escuridão é
ausência da luz.
Então o que você faz quando não quer que o
quarto esteja escuro? Você não faz nada diretamente com a escuridão – ou
faz? Você não pode empurrá-la para fora. Não há possibilidade de criar
algum esquema para que a escuridão desapareça. Você deve fazer algo com a
luz. E isso muda toda a situação; e é por isso que eu chamo de um dos
essenciais, de fundamentos. Você sequer toca a escuridão; você não pensa
nela. Não há porquê; ela não existe, é somente uma ausência.
Então apenas traga luz ao local e você não
encontrará mais a escuridão, porque ela era a ausência da luz,
simplesmente a ausência da luz – não algo material, com o seu próprio
ser, não algo que exista. Mas simplesmente por que a luz não estava
lá, você teve a falsa sensação de existência da escuridão.
Você pode ir em frente lutando com a
escuridão por toda a sua vida e não será bem-sucedido, mas somente uma
pequena vela é suficiente para dispersá-la. Você precisa trabalhar pela
luz porque é positivo, existencial; ela existe por si própria. E uma vez
que a luz vem, qualquer coisa que era a sua ausência desaparece.
A solidão é similar a escuridão.
Você não conhece a sua solitude. Você não
experienciou a solitude e sua beleza, o seu tremendo poder, a sua força.
Solitude e solidão no dicionário são sinônimos, mas a existência não
segue os seus dicionários. E ninguém ainda tentou fazer um dicionário
existencial que não fosse contraditório à existência.
A solidão é ausência.
Por que você não conhece a sua solitude,
existe o medo. Você se sente sozinho e então você quer se apegar a
alguma coisa, a alguém, a algum relacionamento, só para manter a ilusão
de que você não está sozinho. Mas você sabe que está – por isso a dor.
Por um lado você está se apegando a algo que não é real, que é somente
um arranjo temporário – um relacionamento, uma amizade.
E enquanto você está em um relacionamento
você pode criar uma pequena ilusão para esquecer a sua solidão. Mas este
é o problema: ainda que você possa esquecer por um momento a sua
solidão, no momento seguinte você subitamente se torna consciente que o
relacionamento ou a amizade não é permanente. Ontem você não conhecia
este homem ou esta mulher, vocês eram desconhecidos. Hoje vocês são
amigos – quem sabe o dia de amanhã? Amanhã vocês podem ser desconhecidos
novamente – daí a dor.
A ilusão dá um certo consolo, mas não pode
criar a realidade para que todos os medos desapareçam. Ela reprime o
medo, então na superfície você se sente bem – ao menos você tenta se
sentir bem. Você finge se sentir bem para si mesmo: quão maravilhoso é
esse relacionamento, quão maravilhoso é este homem ou esta mulher. Mas
atrás da ilusão – e a ilusão é tão fina que você pode ver através dela –
há dor no coração, porque o coração sabe perfeitamente bem que amanhã
as coisas podem não ser as mesmas… e elas não são as mesmas.
Toda a sua vida confirma que as coisas vão
se modificando. Nada permanece estável; você não pode se apegar a nada
em um mundo de mudanças. Você queria fazer da sua amizade algo
permanente mas o seu querer está contra a lei da mudança, e esta lei não
vai fazer exceções. Ela simplesmente vai em frente fazendo as suas
coisas. Ela irá mudar – tudo.
Talvez no longo prazo você entenderá um dia
que foi bom que ela não tenha te escutado, que a existência não se
incomodou com você e foi em frente fazendo tudo o que queria fazer… não
de acordo com o seu desejo.
Pode levar um pouco de tempo para você
entender. Você quer que este amigo seja seu amigo para sempre, mas
amanhã ele se torna um inimigo. Ou simplesmente – “Você se perdeu!” e
ele não está mais com você. Alguma outra pessoa irá preencher a lacuna
que é muito mais superior. Então, de repente você se dá conta que foi
bom que a outra pessoa se mandou; de outro modo você estaria preso a
ela. Mas mesmo assim a lição nunca vai fundo a ponto de você parar de
pedir por permanência.
Você vai começar a pedir permanência com
este homem, com esta mulher; agora isto não irá mudar. Você não aprendeu
realmente a lição de que a mudança é a essência da vida. Você deve
entendê-la e ir em frente com ela. Não crie ilusões; elas não irão
ajudar. E todo mundo está criando ilusões de tipos diferentes.
Eu conhecia um homem que disse, “Eu confio somente no dinheiro. Não confio em mais ninguém.”
Eu disse, “Você está fazendo uma afirmação muito significativa.”
Ele disse, “Todo mundo muda. Você não pode
contar com ninguém. E conforme você envelhece, somente o seu dinheiro é
seu. Ninguém se importa – nem mesmo o seu filho, nem mesmo a sua esposa.
Se você tem dinheiro todos eles se importam, todos o respeitam, por que
você tem dinheiro. Se você não tem dinheiro, se torna um pedinte.”
A declaração dele de que a única coisa
confiável no mundo é o dinheiro vem de uma longa experiência de vida, de
ser traído uma vez, e outra vez pelas pessoas que ele confiava – e ele
pensou que elas a amavam mas estavam todos ao seu redor por causa do
dinheiro.
“Mas”, eu disse a ele, “no momento da morte
o dinheiro não vai estar com você. Você pode ter uma ilusão de que pelo
menos o dinheiro está com você, mas quando a sua respiração pára, o
dinheiro não está mais com você. Você pode ter ganhado alguma coisa mas
será deixado desse lado; você não pode carregá-lo depois da morte. Você
irá mergulhar em uma profunda solidão que você tem escondido atrás da
fachada do dinheiro.”
Existem pessoas que estão atrás do poder,
mas o motivo é o mesmo: quando elas estão no poder tantas pessoas estão
com elas, milhões de pessoas estão sob o seu domínio. Elas não estão
sozinhas. Elas são grandes líderes políticos e religiosos. Mas o poder
muda. Um dia você o tem, no outro dia se foi, e subitamente toda a
ilusão desaparece. Você está sozinho como ninguém mais está, por que os
outros estão acostumados a estarem sozinhos. Você não está acostumado… a
sua solidão dói mais.
A sociedade tem inventado maneiras para que
você esqueça a solidão. Casamentos arranjados são somente um esforço
para que você saiba que sua esposa está com você. Todas as religiões
resistem ao divórcio pela simples razão que se o divórcio for permitido,
então o propósito básico pelo qual o casamento foi inventado é
destruído. O propósito básico era te dar uma companhia, uma companhia
vitalícia.
Mas mesmo que a sua esposa ou seu marido
fique com você a sua vida inteira, isso não significa que o amor
continua o mesmo. Na verdade, ao invés de te darem uma companhia, eles
te deram um fardo para carregar. Você estava sozinho, já com problemas, e
agora você deve carregar outra pessoa que está sozinha. E nesta vida
não há esperança, por que uma vez que o amor desaparece vocês dois estão
sozinhos, e ambos tem que se tolerar. E isto não é uma questão de estar
encantando um pelo outro; no máximo vocês podem pacientemente se
tolerar um ao outro. A sua solidão não foi mudada pela estratégia social
do casamento.
As religiões tem tentado fazê-lo um membro
de um grupo organizado de religião para que você esteja sempre na
multidão. Você sabe que existem 600 milhões de católicos; você não está
sozinho, 600 milhões de católicos estão com você. Jesus Cristo é o seu
salvador. Deus está com você. Sozinho você poderia estar errado – a
dúvida pode ter sido levantada – mas 600 milhões de católicos não podem
estar errados. Um pouco de apoio… mas mesmo isso se foi porque há
milhões que não são católicos. Há pessoas que crucificaram Jesus. Há
pessoas que não acreditam em Deus – e seu número não é menor do que o de
católicos, é maior do que o de católicos. E há outras religiões com
conceitos diferentes.
É difícil para uma pessoa inteligente não
duvidar. Você pode ter milhões de pessoas seguindo um certo sistema de
pensamento, mas mesmo assim você não pode estar certo de que eles estão
com você, de que você não está sozinho.
(…)
O que estou tentando dizer é que todo o
esforço que foi dirigido para evitar a solidão falhou, e irá falhar,
porque é contra os fundamentos da vida. O que é necessário não é algo
que você possa evitar a sua solidão. O que é necessário é que você se
torne consciente da sua solitude, o que é a realidade. E é tão belo
experienciá-la, senti-la, por que é a sua liberdade da multidão, do
outro. É a sua liberdade do seu medo de estar sozinho.
(fim da primeira parte)
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