Rosa peregrina: Quadro e garfo
Em uma simples visita a loja decathlon, me deparei com uma bicicleta da Btwin, a triban 100; simples, leve e relativamente barata, não era uma speed e tão pouco uma bicicleta totalmente urbana; não, havia ali um conceito com o qual eu não estava acostumado, uma bicicleta que misturava diversas funcionalidades, era urbana, era estradeira e tinha pneus largos e com cravos. Após algumas voltas, foi paixão à primeira vista, apesar da profunda estranheza com o guidão drop e a desconfiança com freios V-brake.
Btwin Triban 100 |
Depois de pesquisar um pouco, descobri que a Triban 100 é vendida como uma gravel/commuter, ou seja, uma bicicleta robusta para uso diário, feita para aguentar o "tranco" e ainda encarar diversos tipos de terreno e condições, diferentemente das "irmãs de papelão", as speed "puro sangue". Depois desta experiência, rapidamente é possível associar uma bicicleta deste tipo com versatilidade, faz de tudo um pouco, porém sem tanta excelência.
Resumo do que é uma gravel |
Segundo o pensamento grego, paixão, pode ser definida como demência temporária e sempre associada a tragédias e afastamento da "boa vida". Sabiamente deixei o fervor no coração abrandar e passei a notar que muita coisa faltaria à triban 100 para me satisfazer como ciclista; porém, a vontade de ter versatilidade em meu dia-a-dia não passou e assim passei a procurar uma bicicleta "gravel" para me acompanhar.
Como de costume, comecei a pesquisar um bom quadro... Como a intenção é montar uma gravel, fica claro que um quadro gravel se torne obviamente necessário...
Material
Carbono nem pensar, caro e quebra fácil se aplicada uma força em sentido contrário à sua resistência. Imaginem vocês lá nos confins do planeta com um quadro partido ao meio... Pelo menos, vai ser leve para carregar o que sobrou kkkkkkkkk.
Alumínio também já deu, apesar de unir leveza e resistência, o alumínio tem um tempo de vida relativamente curto, é desconfortável e ainda como falam os framebuilders: "não tem alma".
Titânio, seria a melhor opção, inclusive para deixar de patrimônio em cartório, mas simplesmente não cabe no bolso.
Aço e ligas, apesar do peso, tendem ao baixo custo, transmitem confiança e boa durabilidade, também são mais "confortáveis" que alumínio...
Acho que minha escolha já ficou implícita; mas onde no Brasil, que só prestigia quadros de carbono e alumínio para MTB e speed, eu iria encontrar um quadro decente? Pois é, uma das soluções era importar, mas com o dólar alto, alfandega voraz e fretes além do custo do produto... desisti; a outra solução foi construir um...
"Framebuilders"
Aqui, descobrimos um mercado cada vez mais crescente, afinal, como comentei em outra postagem, a industria brasileira é muito limitada e não oferece coisas decentes e/ou acessíveis para outros seguimentos fora o moutain bike e o ciclismo de estrada. Apesar de se pagar mais por um quadro feito à mão, as vantagens vão desde um "Fit" personalizado até customização total.
Localizada em Curitiba, não é uma fabricante de quadro propriamente dita, mas realiza encomendas de quadro gravel e customiza o restante. Trabalham apenas com quadros em aço e garfos de carbono ou alumínio. Dentre todas as opções pesquisadas, foi a mais em conta, com quadro/garfo saindo na faixa de R$ 1200,00, porém, estavam com problemas relacionados a fornecedores e sem previsão de retorno para fabricação da gravel Toro.
Cernunnos Toro |
Cernunnos Toro |
Cernunnos Toro |
Cernunnos Toro |
Pioneira do Brasil na fabricação de gravel, pela bagatela de R$ 5990,00 já dá pedalar uma Guará com um grupo shimano sora 2x9 com a combinação de cores que desejar; trabalham somente com quadros em aço. Só vendem a bicicleta completa e isto me fez desistir. É possível fazer "upgrades", mas são bem salgados.
Dinâmica Guará |
Dinâmica Guará |
Dinâmica Guará |
Bornia&Cox
Outra empresa de framebuilding famosa. Já permitem a escolha do material do quadro e projetos mais customizados, tamanho das rodas, ângulos, tipo de garfo, tipo de caixa de direção e por ai vai... Um simples quadro já fica na faixa dos R$ 3300,00 e o espaço para rodas é menor do que eu estava desejando... Nem vi o resto... mas podemos afirmar de olhos fechados que a bicicleta fica uma beleza.
Bornia e Cox Cyclo cross Lama |
Permite uma série de customizações de acordo com o desejo do comprador; trabalham com quadros em aço ou cromo, e garfos em aço, carbono ou cromo. Também não sai barato e pela bagatela de R$ 7141,00 é possível adquirir uma Pantanera com grupo shimano Claris 2x8V com garfo em carbono; é possível fazer "upgrades" nos componentes do grupo. A vantagem da república está na opção de comprar apenas quadro e/ou garfo. O design moderno e a enorme possibilidade de customização do projeto a favorecem muito também. Foi minha escolha.
República Pantanera |
República Pantanera |
Wheel Clearance
Acostumado a pedalar com rodas 650B, gostaria muito que minha próxima bicicleta fosse equipada com este tamanho de pneus também. Após várias conversas e trocas de e-mail, fui atendido e o projeto ficou com a possibilidade de utilizar 650B X 2.1 ou 700 X 53; ou seja, poderia optar tanto por desempenho (aro 700) quanto por conforto (650B).
Fugindo da difícil reposição e incompatibilidades, optei por utilizar cubos "normais", ou seja, nada de bizarrices para encaixe 12v, blocagens de 15 mm e por ai vai.
Garfo
Devido ao pedido por rodas maiores, não apenas o quadro precisou ser modificado, o garfo também sofreu alterações e para aceitar rodas mais parrudas precisou ficar curvado, o que não seria possível com uso de carbono; para mim foi um alívio muito grande a possibilidade de não utilizar carbono, pois além de não confiar no material, um garfo reto também não favorece o conforto.
Furações
Aqui já começam a pesar algumas outras coisas, uma bicicleta para viajar e ser versátil tem que ter opção de bagageiros, caramanholas e para-lamas. Então, foi-me oferecido o garfo com furação para duas caramanholas e mais bagageiro dianteiro; quadro com a possibilidade de três caramanholas, bagageiro traseiro e para-lamas. Havia a possibilidade de cabos e conduítes internos, mas pelo pouco que pesquisei, muitas pessoas desaconselham, então ficaram para fora mesmo.
Também, algo a se pensar antes de adquirir um quadro, é que tipo freio a bicicleta irá utilizar: IS mount; post mount ou flat mount...
Vais usar câmbio dianteiro? É bom decidir se o cabeamento é por cima ou por baixo; ou até mesmo se ele será compatível com o quadro.
Descanso central ou lateral? Bem... acho que você entendeu o espírito da coisa
Também, algo a se pensar antes de adquirir um quadro, é que tipo freio a bicicleta irá utilizar: IS mount; post mount ou flat mount...
Vais usar câmbio dianteiro? É bom decidir se o cabeamento é por cima ou por baixo; ou até mesmo se ele será compatível com o quadro.
Descanso central ou lateral? Bem... acho que você entendeu o espírito da coisa
Projeto final
Ao final de todos os emails, o quadro foi batizado de Ushuaia, fazendo referência à cidade comumente chamada de cidade do fim do mundo e destino comum aos cicloturistas que cruzam a patagônia argentina.
Sonho de pedal... |
Apesar de ainda ser considerada uma gravel, o quadro ficou classificado também como aventureiro, gravel, monstercross pois havia proposto como objetivos: versatilidade, resistência, conforto, capacidade de carga... E assim ficou o projeto de quadro:
Quadro com rodas 700 X 40 |
Quadro com rodas 650B x 2.1 |
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