Gravel bike

Gravel bike invadindo o mercado

Pelo visto a industria nacional de bicicletas notou o quão limitado está o mercado e decidiu entrar na dança de outras modalidades que vão além de "speed" e "mountain bike"; se vai ser "modinha" ou um novo horizonte no ramo bicicleteiro...só o tempo dirá.

Estou falando das bicicletas gravel que estão causando certo burburinho entre comerciantes, competidores e ciclistas amadores. Apesar do ar de novidade em que estão envoltas, não são tão novas assim, eu mesmo vi uma em meados de 2016 nos confins do interior do "país" chamado Pará e pesquisando um pouquinho, da para notar que fora do Brasil o conceito gravel é utilizado já a muitas décadas. Para quem tem dúvidas e/ou está "boiando" sobre o que são, o que fazem e para que servem, ai vai um post.

O que são?

A grosso modo, são bicicletas de estrada adaptadas para andar também fora do asfalto, ou seja, estradões, terra batida, chão e asfalto ruim e acidentado (aliás... No Brasil não falta este tipo de terreno). Não raramente escutamos os mais leigos falando coisas do tipo: "Olha lá, uma speed com pneus grossos"; outro palpita: “não, é uma touring com pneus pra terra?”.

Apesar de descender das bicicletas de estrada, uma gravel bike tem suas peculiaridades, que vão desde geometria até mesmo tipo de pneus.

É uma modalidade nova?

Não! Antes mesmo de surgirem as mountain bikes, já haviam malucos que enfiavam suas bicicletas em grandes estradões (vide o registro abaixo), inclusive, as primeiras MTB nasceram com guidão drop e sem suspensões, como é muito mais fácil de manobrar, o guidão reto virou regra e dai em diante as mountain bikes só evoluíram, aparecendo com o tempo várias submodalidades, equipamentos e competições específicos.

Jacques Anquetil em um Tour de France das antigas, 1960

Por outro lado, quem queria andar apenas no asfalto também passou a se favorecer da segregação entre terra e asfalto, pois as bicicletas de estrada também evoluíram para caminhos mais específicos, com geometria de quadros cada vez mais agressiva, equipamentos cada vez mais leves e com melhor performance.

A turma maluca que ficava "em cima do muro" também não deixou de pedalar, e assim foi criado o cyclocross, onde o objetivo é atravessar um campo de trilha fechada em um determinado tempo, simulando viagens realizada por ciclistas de antigamente. Muitas vezes a prova tem tanto obstáculo que é muito comum carregar a bicicleta nos ombros (alguns quadros inclusive possuem "encaixe" para ombros), logo, a bicicleta deve ser leve e rápida, o que convenhamos, já exclui o uso de suspensões e pneus calibrosos das MTB. Assim como a modalidade "speed" e "moutnain bike", o cyclocross também tem equipamentos e acessórios muito específicos.

O problema de toda esta especialização é que as bicicletas ficaram cada vez mais caras e muito, mas muito longe mesmo do uso de ciclistas amadores. Para quem quer apenas se divertir com uma magrela versátil, as gravel, endurance, touring, adventure e afins acabaram surgindo.

Peculiaridades

Já deu pra notar que pelo conceito, isto é, filha de uma road, mas que percorre estradas terra, as gravel bikes são muito parecidas com as bicicletas de "speed e "cyclocross", mas com suas particularidades:

1. Geometria

A geometria do quadro gravel parece com as "speederas e cyclocross", mas não são, é muito mais relaxada, o que no final da conta acaba oferecendo postura mais cômoda em cima do selim durante longas distâncias, inclusive, não são raros relatos de treinos acima dos cem quilômetros utilizando uma gravel bike. Há também uma melhora de dirigibilidade quando se trata de transpor obstáculos.

Geometria relaxada x geometria agressiva

2. "Wheel clerance" (espaço para rodas)

Aqui acredito que seja o maior diferencial, há a possibilidade de utilização de pneus maiores e mais largos, inclusive criando termos como "monstercross", que são bicicletas gravel "bombadas" com pneus de MTB 2.3~2.4. Apesar da enorme possibilidade de pneus, o mais comum é que encontremos no mercado larguras de pneus que variam entre 35 mm a 47 mm.

Como não poderia deixar de ser, a rixa eterna 700c X 650b está presente aqui também, mas resumindo o cenário, o aro 700c proporciona performance e o aro 650b proporciona conforto; dependendo do objetivo pretendido, fica mais fácil escolher entre um e outro: Para quem gosta de viajar o 650b é uma boa escolha, quem quer correr um pouco mais parte para o 700c.

Gravelcross

3. Relação de marchas

São mais leves e compactas que as bicicletas de cyclocross e speed; neste quesito, lembram muito mais as relações das mountain bikes com coroas duplas (50 x 36) ou simples (36 a 44 dentes, ai vai da perna do camarada) e cassetes 10x33 a 10x50. Brasil à fora, isso tem um nome, "wide gear ratio" (grande abrangência de marchas)

Diversas opções de relação oferecidas pela SRAM para uso gravel

4. Capacidade de carga aumentada

Não raramente, há a opção de bagageiros ou acessórios para bikepacking, coisas que estão ficando cada vez mais raras no mundo das mountain bikes. Assim como tamanho das rodas, existe uma certa "rixa" entre alforges X bikepacking, mas esse é um tema que ainda vai longe.

Bikepacking

5. Guidão flared drop

Assim como geometria, é parecido mas não é igual. Nem todas as gravel bikes tem o guidão flared, mas é nitidamente o mais utilizado pelos graveleiros; para facilitar as manobras, um guidão gravel é mais largo em comprimento e mais curto em "drop" e "reach", olhando mais de perto, é mais ou menos isso:

Em amarelo um guidão "speed" tradicional sendo comparado com guidões gravel

Valeria a pena investir em uma gravel? Veio para ficar?

Depende do seu perfil de ciclista, para quem anda apenas em asfaltos bons, saiba que não substitui uma boa "road bike"; para quem pedala em trechos acidentados com muitos desníveis, uma boa mountain bike é quase que obrigatória; para quem vai apenas da casa ao trabalho e faz pedais noturnos, há opções mais em conta de bicicletas urbanas. Porém, se você faz isso tudo e ainda viaja  por ai, uma gravel (ou suas variações) certamente vai caber como uma luva no seu bicicletário; e para quem tem dúvidas quanto aos terrenos encontrados no Brasil, saiba que a maioria é de estradões e terra batida mesmo.

Se a modalidade vai crescer e solidificar... Bem... Eu apostaria que infelizmente não, pois vivemos em um país onde bicicleta ainda é coisa de pobre e para fugir disso, somos doutrinados a adquirir bicicletas de carbono aro 29 com componentes mais caros que o necessário, mesmo que seja para pedalar a noite sem sair da cidade ou uma vez ao mês em chão de terra batida e plana ou ainda no acostamento de uma BR.

Limitações

Apesar de ser muito versátil, tem algumas limitações. É comum ver propagandas bem prepotentes do tipo: "a única bicicleta que você irá precisar" ou "uma que vale por todas" e por ai vai. Mas vamos pensar um pouco.

Uma gravel é mais resistente, porém, é mais lenta que uma "speed"; uma gravel é mais rápida que uma montain bike, porém, é mais "dura". Com este cenário, então podemos concluir que, apesar de toda versatilidade, tudo ainda irá depender do tipo de pedal que o ciclista faz. Se for somente em asfalto e com muita velocidade, diria que uma gravel dá conta de substituir uma "speed"; se o pedal acontece quase sempre em áreas muito fechadas, cheias de pedregulhos, com muitos desníveis... Bem, é melhor investir em uma mountain bike... É bom saber o que se procura para escolher a bicicleta que melhor se adapta ao seu pedal, do contrário, o conselho do gato cai como uma luva:


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