Perdão
“Deixe a ira e abandone o furor.”
(Salmo 37:8)
Guardamos certas feridas dentro da alma como se fossem um tesouro precioso, de vez em quando tiramos da memória e observamos, absortos, como se fossem um álbum de fotografias. Nesse momento, passamos outra vez pela mente o filme triste do episódio imperdoável, e o revivemos. O desgosto com o passado se alimenta de grandes porções do presente. Eis aí o rancor. A maioria de nós acredita que as pessoas que nos feriram devem pagar pela dor que nos causaram; afinal, elas merecem ser castigadas, mesmo que inconscientemente, desejamos isto.
Mesmo sem querer, atropelamos as pessoas que amamos, pela pressa de ser feliz, pela impaciência de lidar com as diferenças e ainda mais, pela incapacidade de olhar o outro em seus valores mais invioláveis. E, talvez, sejam esses mesmos que nós mais violamos. As relações acabam se tornando um receptáculo de mágoas. Frágeis na cumplicidade e nos perdões. A cada briga, uma dezena de acusações de meses ou anos é capaz de voltar ao tribunal dos afetos, trazendo-nos a certeza de que o perdão, de fato, não existiu. É quando você começa uma conversa sobre algo incomodando a relação no presente e seu par te joga na cara coisas de dois ou três anos atrás: "Lembra daquela vez..."; "você disse isso a 3 anos atrás..."; "você deixou de fazer aquilo daquela vez...". Se você permanece falando ou pensando com rancor de alguém, então o perdão ainda não aconteceu. Algumas pessoas perdoam, outras não, outras estão tentando. Porém, fingir que perdoamos, ranger os dentes, engolir em seco, não é perdoar.
Tenho absoluta certeza que desde criança ouvimos que guardar rancor e ressentimento nunca é saudável. Sobre Pedir desculpas ou sobre não guardar mágoas nossos ouvidos estão cheios, mas de perdoar verdadeiramente não se ouve muito. Alguma vez você já se perguntou se vale a pena perdoar? Ou para que perdoar?
A palavra grega referente a “perdão” quer dizer literalmente “abrir mão, deixar ir embora”. Não é esquecer ou fingir que não aconteceu, é desistir da vingança. Perdoar uma traição à confiança é muito mais importante para o traído do que para o traidor. Por experiência própria digo que o perdão é necessário para dar seguimento a vida, do contrário acabamos por nos tornar como aqueles espíritos maléficos dos contos de terror, e ao invés de ir embora, continuamos no mesmo plano ligados aquilo que nos causou tanto mal.
O perdão se torna uma possibilidade quando a dor do passado parar de reger nossas vidas. Perdoar é chegar à conclusão de que já odiamos bastante e não queremos odiar mais. E isto pode incluir qualquer pessoa que te fez mal, inclusive nós mesmos. Só quem já foi capaz de perdoar, consegue amar de verdade. Escolher o perdão é escolher o amor, é escolher a si mesmo, é aceitar a imperfeição humana. Amar os acertos e qualidades, é fácil. Amar apesar das imperfeições e dos erros e ainda fazer com que o amor sobreviva depois do perdão, é uma decisão de fé.
Para quem precisa perdoar para seguir em frente, fique sabendo que cada um e cada dor tem seu tempo, perdoe quando se sentir pronto, nunca por obrigação, e menos ainda para aparentar boa imagem. Perdoe a si mesmo antes de tudo. Perdoar é parar de alimentar mágoas e ressentimentos. Perdoar é entender que a vida segue; não significa obrigatoriamente um desejo de voltar ao convívio com quem te feriu; é totalmente compreensível a falta de confiança, a falta de vontade de querer conversar ou ficar junto. O encanto quebrou... A confiança já se foi...
Não demore. Faça esforço para perdoar o mais rápido possível, em vez de permitir que a raiva tome conta de você. (Efésios 4:26, 27)
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