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Ruínas do antigo Educandário Nogueira de Faria em Cotijuba/PA |
Foi realizado no ultimo domingo (22.11.2015), pela equipe trilhas e rumos de Belém, um passeio de nível iniciante (mesmo com pouco preparo físico) para a ilha de Cotijuba. Já havia realizado este percurso tanto a pé como de bicicleta, sempre curti o paisagismo da ilha, que aliás, resiste bravamente a ação humana (até quando?); foi após um passeio iniciante como este que decidi conhecer pequenas cidades fazendo uso de uma bicicleta; apesar de quatro eventos simultâneos ocorrendo pela região metropolitana de belém, escolhi este para passar o domingo.
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Participantes do passeio organizado pela equipe trilhas e rumos |
Iniciativas como esta, de organizar e realizar passeios com baixa dificuldade são muito boas e imprescindíveis para abrir as portas do ciclismo, em especial para quem sempre teve vontade, mas encontra o despreparo como maior dificuldade. Infelizmente, é cada vez mais comum encontrar grupos sem tolerância com iniciantes e as vezes até mesmo com intermediários...ou você pedala a mais de 30km/h durante horas seguidas sem perder o ritmo ou fica de fora! Para quem é iniciante e mora em Belém/Ananindeua, a dica que passo é adquirir um mínimo de condicionamento físico e partir para grupos mais inclusivos como E.A.R.T e trilhas e rumos. Vale lembrar que como qualquer atividade física, o ciclismo deve ser praticado obedecendo os limites do corpo.
Ilha de Cotijuba
Para quem nunca ouviu falar, trata-se de uma pequena ilha, distante cerca de 25 km de Belém; a travessia é feita no "porto" de icoaraci e leva entre 40 - 50 minutos, dependendo da maré. Apesar de pequena, conta com uma boa história, infelizmente já quase esquecida.
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Vista aérea de Cotijuba. Foto: Marcel Lima |
"Os primeiros habitantes da ilha de Cotijuba foram os índios Tupinambás, que a batizaram com este nome. Em tupi, Cotijuba significa "trilha dourada", talvez uma alusão às muitas falésias que expõem a argila amarelada que compõe o solo da ilha.
A integração da ilha à cidade de Belém se iniciou em 1784, com a comercialização do arroz cultivado no Engenho Fazendinha. Com a desativação do engenho, a ilha passou a ser habitada, também, por famílias caboclas que sobreviviam do extrativismo.
Em 1933, quando a criminalidade infanto-juvenil em Belém atingiu índices alarmantes por conta da estagnação econômica regional, após o declínio do Ciclo da Borracha, foi inaugurado, na ilha, o Educandário Nogueira de Faria, construído para abrigar menores infratores.
Durante a ditadura militar, as instalações do educandário também abrigaram presos políticos. Em 1945, imigrantes japoneses chegaram à ilha, ensinaram técnicas agrícolas aos educandos e, em 1951, fundaram a Cooperativa Mista de Cotijuda Ltda, em parceria com os agricultores locais.
Em 1968, foi construída uma penitenciária na ilha e, por algum tempo, educandário e presídio coexistiram. Porém, logo o educandário foi extinto e a ilha se transformou em ilha-presídio, recolhendo condenados e presos políticos, adultos e menores, com um sistema penal violento e arbitrário.
Os menores e os presidiários construíram o sistema viário que se mantém pouco modificado até os dias atuais. Em 1977, com a inauguração da Penitenciária Estadual de Fernando de Guilhon, em Americano, a Colônia Penal de Cotijuba foi, definitivamente, desativada.
O estigma de ilha-presídio povoou o imaginário da sociedade paraense, mantendo-a à distância. A Constituição Brasileira de 1988 transferiu Cotijuba ao domínio municipal de Belém, quando houve o despertamento do interesse de veranistas atraídos pela riqueza da sua biodiversidade e pela sua proximidade da capital paraense.
Em 1990, através de Lei Municipal nº 5.770, a Ilha de Cotijuba foi transformada em Área de Proteção Ambiental, fato que obriga a preservação das suas ricas fauna e flora e "proíbe" a circulação de veículos motorizados, exceto os de segurança e saúde.
Segundo os moradores de Cotijuba, em 2005, faleceu o último "preso" da ilha e, com ele, foi enterrado todo o sofrimento que já existiu por ali. Hoje, Cotijuba é um patrimônio a ser visitado, preservado e valorizado pela humanidade. É uma ilha cheia de Amazônia e de Amazônidas."
A partir da história de Cotijuba, dá pra notar que o governo do estado paraense nunca apoiou turismo, sustentabilidade, fiscalização e patrimônios (até quando?). Apesar de contar com uma lei municipal que proíbe veículos motorizados trafegando na ilha, encontramos muitos mototaxistas e motos particulares, coexistindo com charretes e bondinhos, alguns motociclistas inclusive, circulam totalmente irregulares e em altíssimas velocidades colocando em risco os mais desatentos.
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Moto trafegando entre os ciclistas |
Percurso
Saímos do terminal hidroviário e pedalamos até a praia do Vai-quem-quer, não fiz medições, mas acredito que a distância tenha ficado por volta de 12 - 15 quilômetros. Por se tratar de um passeio para iniciantes, o percurso é "mamão com açúcar"; não tem muitas subidas ou descidas bruscas, não tem áreas alagadas para atravessar, não tem muitos trechos de lama e não tem trechos de mata fechada, porém, por se tratar de uma ilha, a dificuldade maior fica por conta dos trechos de praia ou areia, mas nada para largar as bicicletas e voltar para casa, basta descer e empurrar.
É difícil notar, mas imagino que exista uma leve elevação no percurso todo, alguns trechos estamos no mesmo nível das praias e da baia do Marajó e em alguns outros, chega-se a pedalar acima das falésias da ilha (vulgo paredão de terra e argila), isto é, acima das praias e baia.
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Ao fundo, falésias pequenas |
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Falésias altas e dois ciclistas lá em baixo |
Outra notícia boa é que a maior parte do percurso tem muita sombra, muitas mangueiras e cajueiros; e pontos comerciais para hidratação/alimentação.
Praia do Vai-quem-quer
A chegada na praia do vai-quem-quer marcou o final do passeio; hora de tomar banho, repor as energias e descansar.
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restaurante da Leo, comida boa e barata |
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Praia do Vai-quem-quer |
Extensão do passeio
O passeio foi tão bom que muitos entusiastas decidiram pedalar mais um pouco; a princípio foi decidido chegar até o final da praia do vai-quem-quer, subir a falésia e retornar até o restaurante, porém...
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Segunda parte do passeio (opcional) |
As escadas que davam acesso ao "nível superior" da ilha estavam quebradas e por isso, foi necessário encontrar outro caminho para dar continuidade ao passeio.
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Era para subir...mas... |
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...As escadas de acesso estavam em mal estado |
Superadas as dificuldades, foi decidido pedalar sem destino muito certo, passamos por "singletracks" maravilhosos, chão de terra batida com paisagens lindas, pegamos trechos com muita areia e enfim chegamos a "ponta" da ilha e...sem ter mais por onde prosseguir, foi preciso finalmente pedalar de volta para o restaurante, onde parte do grupo aguardava.
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"Ponta da ilha". Da para avistar a ilha de mosqueiro no horizonte. |
Caminho de volta para Belém
A volta até o trapiche, assim como todo restante do passeio, foi bem tranquila, sem pneus furados, quedas, ou "cara branca". No barco, as coisas mudaram de cenário, a maré enchente provocou muita maresia e altos balanços, em alguns momentos, até cheguei a pensar que a embarcação iria virar, mas nada aconteceu. A travessia de volta foi marcada por um pôr-do-sol nublado, porém belo e digno de apreciação.
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Para a maioria, final de passeio...alguns ainda pedalaram até suas casas. |
Tabela de custos
Para quem pretende se aventurar em cotijuba, ai vão alguns preços:
- Barco para travessia: R$ 5,00 por pessoa e R$ 5,00 por bicicleta
- Café da manhã na ilha: varia entre R$ 2,00 e R$ 5,00
- Bondinho: R$ 4,00
- Charrete: R$ 4,00 a R$ 7,00 dependendo do destino.
- Moto Táxi: R$ 5,00 a R$7,00
- Almoço na barraca da Leo: o prato sofre variações entre R$ 15,00 e R$ 20,00
- Água, refrigerante e destilados: Não compre na praia, leve de casa ou compre durante o caminho que sai muito mais barato.
- Hospedagem: Não sei dizer com precisão, uma vez que tem variação sazonal, mas pelo que deu pra notar nas plaquinhas de preço ao longo do caminho, deve variar entre R$ 60,00 a R$ 100,00
Dados do GPS/Celular
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De casa até a praia do vai-quem-quer. Esqueci de desligar o GPS durante a travessia de barco |
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Alongamento da trilha e volta até o barco |
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Do barco até chegar em casa |
Mais fotos do passeio
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