Farmácia comercial em Santa Catarina
Imemoráveis tempos atrás escrevi O que não te contam sobre serviços farmacêuticos nas farmácias de Curitiba e Farmacêutico marajoara em Curitiba; onde tento repassar um pouco da minha experiência pessoal sobre como é atuar no ramo farmacêutico de comércio varejista (vulgo farmácia de esquina) na cidade de Curitiba. De lá para cá, muitas e muitas coisas aconteceram e aqui estou eu, uma vez mais com meus botões com a comichão de escrever, mas desta vez, no norte do estado de Santa Catarina.
O que é bom?
- Piso salarial. É bem difícil definir um piso exato para o farmacêutico do comércio varejista em Santa Catarina, pois por estas bandas existem muitas subdivisões estaduais, mas em linhas gerais, um farmacêutico catarinense ganha mais que um paranaense. No Paraná, o piso é de R$4290,00 e em Santa Catarina fica em R$ 4.378,00; todavia, se você trabalha nas cidades que compõem o vale do Itajaí (Itajaí, Ilhota, Itapema, Penha, Bal. Piçarras, Luís Alves, Navegantes, Balneário Camboriú, Camboriú, Porto Belo, Canelinha, Tijucas, Nova Trento, Brusque, Guabiruba, São João Batista e Major Gercino) o piso sobre para R$ R$ 5,219,00. Não raramente também, algumas redes adotam um piso único para todo estado, então mesmo atuando fora do vale do Itajaí ainda é possível receber o piso de lá.
- Serviços farmacêuticos. Ao menos na região norte do estado há uma realidade muito mais próxima à paraense do que da paranaense. Neste quesito, o farmacêutico é bem visto e valorizado. Atuando em Curitiba, cheguei a realizar gratuitamente serviços farmacêuticos, ai você pensa que é ruim? A rede aonde trabalhava propôs pagar R$ 0,35 para cada consulta clínica... é claro que houveram cobranças de metas de serviços clínicos para justificar os R$ 0,35 centavos pagos. Por aqui, paga-se insalubridade ou periculosidade ou um valor à parte para quem tem a especialização de farmácia clínica, na rede Panvel por exemplo, há relatos que quem atua nos serviços clínicos tem seu salário aumentado para R$ 5900,00... É claro que há cobrança de metas de serviços clínicos, então, não se assuste de estar passando em frente à uma Panvel e ser abordado para realizar uma consulta farmacêutica.
- Benefícios. Neste quesito, mais uma "lavada" no estado do Paraná. A maioria das redes na região norte te dá vale alimentação e plano de saúde. Com sorte, você consegue plano odontológico e descontos em psicólogos e academias de musculação também.
- Incentivo aos estudos. Mais um ponto para o time SC. São difíceis, mas há a possibilidade de bolsas de estudos custeadas pela empresa para você cursar farmácia ou pós-graduação na área.
- Menos estresse? Aqui pode ser uma percepção muito pessoal, mas o fato de não ter curitibanos mal educados e mal humorados fazendo piadas ofensivas à minha pessoa sob pretexto de "quebrar o gelo" ou chorando descontos torna o dia mais ensolarado.
- Melhor aproveitamento intelectual. Uma vez mais, "ponto de lavada". Pois então, a maioria dos gestores nas farmácias são farmacêuticos e quando você parar para atualizar um POP ou uma tabela de temperatura, é certeza que não haverá um miserável formado apenas em administração desmerecendo o ato.
- Maior rigidez aos conceitos. EITA!? Grandes redes paranaenses conseguem enfiar o que der e o que não der dentro das lojas e não estou exagerando com sarcasmos; não raramente podemos comprar pão, ketchup, salame ou sardinha para um lanche, talvez chocolates de sobremesa também; de quebra, comprar a ração pra cachorro junto caso tenha esquecido. Parece algo bom? Para o brasileiro médio que se afoga em consumo, pode parecer muito bom, mas um dos conceitos mais básicos de uma farmácia é servir como promotora de saúde, seja tratando ou prevenindo doenças e isso não vai acontecer com oferta de produtos ultra processados ou pra lá de açucarados, não é?!
Típica farmácia Nissei em Curitiba |
pico glicêmico a partir de R$ 3,99 |
O que continua ruim?
Obviamente que nem tudo são flores do lado de cá. Como toda e qualquer farmácia brasileira:
- Horários continuam roubando sua vida social
- Cadeiras existem, mas apenas para constar nas fiscalizações
- Comissionamento cada vez mais baixo (algumas redes já cortaram por completo)
- Metas e campanhas cada vez mais exigentes
- Suplementos alimentares sendo vendidos como medicamentos. Aqui, um ponto muito polêmico, o profissional farmacêutico fica entre mentir/omitir informações importantes para ludibriar e vender tal produto e assim manter a tal lucratividade da loja; ou bater o pé e falar a verdade e ficar mal falado por gerentes e supervisores
- Baixo crescimento. Como refletido na colonização catarinense, quem nasceu com "sobrenome" e "QI" tem muito mais facilidade de conseguir cargos acima da média. Infelizmente os melhores cargos e salários vão para quem nunca ficou atrás de um balcão, é o "guru" do marketing que nunca atendeu um cliente real mas quer ensinar a vender; o "supervisor" que viu nas aulas de administração algo sobre lucro, mas faltou as aulas de matemática sobre médias mensais de venda; é o gerente do compras que decide comprar dezenas de produtos que logo de cara todo balconista sabe que não vende... e por ai vai.
- Foco ainda nas vendas. Apesar de dar reconhecimento aos serviços clínicos, o foco ainda é ticket médio, itens de campanha, lucratividade, evitar perdas de vencidos
- Excesso de vagas que não gera aumento salarial, mas sim decaimento intelectual e técnico da profissão farmacêutica... Pois é... Qualquer zero à esquerda consegue se manter empregado atrás de um balcão de farmácia. Afinal... O farmacêutico se resumiu a conferir receitas, fazer indicação do item da campanha e entregar caixinhas de genérico ou similar que dá mais lucro... Não é?!
Nitidamente, atuar no comércio varejista em Santa Catarina é muito mais vantajoso do que no Paraná, especificamente em Curitiba, mas ainda está MUITO, mas MUITO longe de afirmar que o ramo oferece empregos dignos. Além dos pontos negativos citados acima, para mim o maior peso é a perda da finalidade do estabelecimento comercial farmácia.
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