Às narcisistas da minha vida

A narcisista pode até sentir amor, mas sente mais forte o pânico da rejeição;

A narcisista pode até sentir amor, mas sente mais forte que é incapaz de cativar o amor do outro;

A narcisista pode até sentir amor, mas sente mais forte que só terá a atenção do outro se usar de meios como a chantagem, o constrangimento, a desqualificação, o vitimismo,  a coerção, a tirania... dentre outros;

Amada narcisista, deixo aqui a oração da Gestalt, você é você e eu sou eu; eu faço minhas coisas e você faz as suas; não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas e nem você está neste mundo para viver conforme as minhas;

Se por acaso, nos encontrarmos e nos "afinizarmos", será lindo... se não... não há nada a fazer...

A raiva que você sente de mim só me fará mal se eu ficar com raiva de você; e eu sei que isso dificilmente acontecerá, porque sei que a raiva que você sente de mim é pelo fato de eu não expressar o amor que sinto por você da forma como você entende como amor;

A raiva que você sente de mim é também a raiva que você sente de você mesma, por ter gerado expectativas ao meu respeito que não se cumpriram;

Frustração, esse é o problema, sua péssima habilidade de conviver com a frustração. Quase tudo não acontece como a gente quer, e você sabe disso; mas é sempre como precisa ser e no fim das contas acaba sendo para nosso bem, mas você nunca dá chance ao acontecer;

A raiva que você sente de mim é ainda uma forma aversa de declarar seu amor por mim. Você me ama, mas como não demonstro da forma como você entenderia que eu te amo, você opta por achar que eu não te amo;

Você se sente um ser rastejante e humilhado, por, ao declarar que me ama, não ter de mim a declaração do meu amor por você do jeito que você quer;

A narcisista morre de medo da desconstrução que o amor lhe causa porque ela já está desconstruída pela ideia do fracasso, mas ela teima de posar de resolvida... é muito orgulho... é muita vaidade;

Na verdade, você não consegue expressar o amor que deveras sente por causa do pânico de ouvir um não. Em algum ponto ai dentro, você sabe que eu te amo e te trato bem, mas do meu jeito... porque eu te amo; mas em algum outro ponto ai dentro de você, no qual você acredita ainda mais, duvida mortalmente deste fato, do fato que eu te amo;

Você sempre nega a existência dos amores que de fato está sentindo e você tem a equivocada certeza que não é um ser passível de ser amado; você acha impossível, absolutamente impossível que alguém te ame verdadeiramente;

Talvez a questão toda comece lá atrás, lá no comecinho da vida, quando todos nós de alguma forma acreditamos que somos aquele lixo que nos fizeram crer que somos, talvez por isso a equivocada certeza de que você é um ser que não pode ser amado;

Então você prefere viver, sem viver plenamente um amor a ter que conviver com a minha possível, ainda que improvável rejeição ao seu amor;

Aprendemos que não é bom permanecermos na raiva por nos destruir, a raiva sempre destrói o raivoso e destrói a quem odiamos, ainda que apenas temporariamente. Porém, a raiva destrói a quem odiamos somente se o odiado ficar com raiva também;

Por isso, depois de ter vivido muita raiva, ódio e sentimento de vingança, aprendemos a tolice que é tudo isso. Não é por santidade, pois isso é equívoco, mas sim por constatar que não há outra opção a não ser permanecer no sentimento de amor... e sem expectativas;

Para um nível de consciência ainda primitivo não existe maior manifestação de frustração pela não vivência amorosa do que sentir raiva em relação ao ser amado. Sua raiva de mim é a raiva pela sua própria incapacidade de viver o amor de forma digna; é sua frustração pela não vivência do nosso amor do seu jeito;

O seu jeito de amar não expressa amor, expressa tirania, por isso eu mantenho em relação a você a mais saudável e amorosa distância. Não é rejeição, é autopreservação, mesmo sabendo que isso te deixa com muita raiva de mim e a essa raiva, eu não reajo...

Eu apenas exponho que eu também te amo...

Amada narcisista.

Texto baseado na obra de Arly Cravo