Rosa peregrina: Freios


Uma das maiores dificuldades para quem quer construir uma boa bicicleta gravel ou de aventura com guidão drop são os freios, já explico: A maioria das alavancas drop (STI aqui no Brasil) tem uma puxada de cabo diferente da puxada das alavancas dos guidões retos e isso faz MUITA diferença. Para quem tem cacife sobrando, tanto faz utilizar freios hidráulicos com STI ou com manetes de MTB, basta escolher o modelo e montar na bicicleta; mas para quem quer gastar menos, em aquisição e manutenção, é bom ficar de olho na compatibilidade de freios e alavancas drop mecânicos.

Vantagem mecânica


Princípio da alavanca

Considerando que a massa (peso) de M1 e M2, podemos concluir que quanto maior a alavanca, menos massa (força) é necessária para mover uma massa maior. Além disso, para deslocar uma grande massa pela mesma distância, quanto maior for a alavanca, mais distância precisa ser coberta pela massa usada (M2) para mover a massa maior.

A relação entre alavancas é chamada de vantagem mecânica. Portanto, se a alavanca b for duas vezes maior que a alavanca a (figura acima), 1 kg de massa M2 será suficiente para elevar 2 kg de massa M1. No entanto, para elevar a massa M1 por 10 cm, a massa M2 precisará cobrir uma distância maior.


Vantagem mecânica dos freios mecânicos e a quantidade de tração do cabo da alavanca


O princípio da alavanca é usado para freios mecânicos. A alavanca do freio pode viajar cerca de 20 graus até alcançar as barras do guidão. Essa é a viagem máxima. As pastilhas de freio são colocadas a cerca de 1 a 2 mm do aro da roda ou do rotor do disco.

Quanto menos cabo for puxado pela alavanca do freio durante seu percurso completo de 20 graus, maior a vantagem mecânica. Quanto menor a distância entre as pastilhas de freio por um mm de cabo puxado, maior a vantagem mecânica.

Nas figuras abaixo, existem duas alavancas, ambas com deslocamento de 20 graus. Um puxa 7 mm de cabo, o outro 15 mm:

A distância da âncora do cabo do freio ao pivô em torno do qual a alavanca gira é menor, apenas 21 mm. Portanto, há menos cabo puxado, apenas 7 mm para uma rotação da alavanca de 20 graus - proporcionando maior vantagem mecânica.

A distância da âncora do cabo do freio ao pivô em torno do qual a alavanca gira é de 42 mm.
Há mais cabo puxado, 15 mm para uma rotação da alavanca de 20 graus - proporcionando assim menor vantagem mecânica

Sensação vs função


Pouca vantagem mecânica leva a baixa força de frenagem. A sensação na alavanca será firme, mas essa sensação é enganosa. Ao tentar travar com força com esses freios, a força aplicada aos freios será relativamente pequena, inadequada para uma parada efetiva.

O excesso de vantagem mecânica leva a uma sensação esponjosa e mole na alavanca, já que a grande força aplicada acaba esmagando as almofadas ou pastilhas de freio, além de afrouxa muito o cabo.

É por isso que a vantagem mecânica precisa ser equilibrada. A quantidade de cabo puxado pela alavanca precisa corresponder ao movimento das pastilhas de freio. Se a alavanca do freio puxar 10 mm de cabo, as pastilhas de freio devem se mover cerca de 5 mm, o que resulta em uma vantagem mecânica de 2:1.

Tipos de alavancas de freios e (in)compatibilidades


Basicamente existem três tipos de alavancas de freio: V-brakes/disco, cantilever e drop (road ou STI). Cada uma servindo para seu respectivo freio. Cantilever é praticamente coisa de museu e como já havia comprado um guidão gravel do tipo "drop", resta escolher uma alavanca road. Como as gravel compartilham terreno com as mountain bikes, achei quase que obrigatório o uso de freios a disco. Até aqui tudo bem... Acontece que alavanca road tem puxada de cabo diferente de alavanca para freio a disco/Vbrake, "short pull" e "long pull" respectivamente.

Como o meu já confiável AVID BB7 não pode ser utilizado devido as diferenças de alavanca e puxada de cabo, chega o momento de procurar algo decente no mercado para frear a gravel rosa peregrina... No Brasil a predominância de freios V-Brake já indica o grande atraso e o prelúdio da dificuldade em achar algo bom e seguro...

Se tratando de freios a disco, oficialmente só podemos contar com o modelo BR-317 da linha sora da shimano, que equipa as bicicletas criterium e versa da fabricante SENSE; funciona bem, mas com vários relatos ou ressalvas de perda de potencia quando em terrenos mais técnicos. Eu não gostaria de correr o risco de acidentes ou futuras irritações, então acabei esquecendo esse modelo. Apenas por curiosidade, até mesmo este modelo ainda é muito dificultoso em adquirir, afinal estamos no Brasil, onde a bicicleta ainda tratada como brinquedo e "coisa de pobre".

Shimano sora BR317

É possível encontrar pela internet vários modelos hidráulicos para uso, mas como citado no início do tópico, apenas as alavancas, das mais básicas, já custariam R$ 1400,00 para cima. Então encontrei a solução do freio semi-hidráulico, utilizado pelo pessoal da Cernunnos bike. Trata-se de um modelo onde apenas a pinça tem óleo e todo o restante é acionado por cabo normal; surpreendentemente, o par deste freio custa menos de 150,00; é muito eficiente e é relativamente fácil de ser encontrado, porém... também não é raro encontrar relatos muito negativos sobre este equipamento, como perda repentina da função.


Outra coisa que fez muita diferença no avid bb7 que utilizo na minha antares é o acionamento simultâneo das pinças, garantindo um funcionamento muito próximo e as vezes até idêntico aos freios hidráulicos, felizmente dentre os modelos bem conceituados, todos contém esta tecnologia. Então cheguei a dois candidatos de peso.

Alavancas drop "long pull"


Para quem pensa em utilizar freios de MTB em uma gravel ou fixa, é possível, pasta para isso utilizar uma alavanca drop "long pull", existem apenas três modelos "mais fáceis" de encontrar:

- Cane creek V drop


- Tektro RL 520 (existe a versão RL 340, que é "short pull")



- Gevenalle CX shifters


Dentre estes modelos, o da gevenalle é de longe o mais interessante, pois além de ser utilizado com freios de MTB, ainda há a possibilidade de trocas de marcha. Fora o modelo da Gevenalle, os outros são bons, porém te obrigam a tirar a mão do guidão para acionar o câmbio utilizando um bar-end shifter:

Bar end shifter

Apesar de não muito prático, este tipo de trocador é muito durável e dá pouca manutenção. Desisti de utilizar este sistema devido a dificuldade colossal de encontrar um no Brasil, o mesmo vale para as alavancas "long pull".

Minhas dúvidas e escolha


- Avid BB7 Road

Pois é, para a surpresa minha, a SRAM produz o BB7 na versão "short pull", porém, cada peça sai por volta dos R$ 350,00 e se for o prateado bonitão de carbono... algo em torno de R$ 500,00 e pouco, isso fora o frete e possíveis taxas alfandegárias.

AVID BB7 road em três opções de cor

- TRP Spyre

Para fugir da SRAM, optei por este modelo, bem mais elogiado no mundo das gravel e bicicletas de estrada, porém, com custo e design muito bons; encontrei cada peça a R$ 213,00 na merlin cycles, isto sem contar o frete e possíveis taxas alfandegárias. Para quem for adquirir este modelo, é bom ficar atento ao encaixe, pois existe o padrão de montagem flat mount e o post mount. Existe ainda uma versão em carbono, SLC para quem curte catar gramas nos componentes.

TRP spyre post mount

TRP Spyre post mount

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