Um raio que cai duas vezes no mesmo lugar: O nascimento da Nina


Desafiando o mito popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, cá estou uma vez mais idealizando uma bicicleta. Já montei bike com sobras de peças de outras bicicletas ou compras erradas; já montei para presentear quem não pedalava; montei para "peão de obra"; isso para nem contar alguns pedidos que nunca se realizaram, já recebi inclusive pedido de montar uma bicicleta para uma baixinha de pernas curtas que sequer havia sentado em um selim. Imagino que minha satisfação ao terminar uma montagem deva ser contagiante, pois mal termino e já vem alguém perguntando se demora muito, se gasta muito...e por ai adiante. Infelizmente a empolgação inicial logo se esvanece e as bicicletas ou o desejo de ter uma bicicleta mais personalizada logo caem no esquecimento, por este motivo, havia decidido não montar ou presentear para mais ninguém.

Também montei para mim mesmo a quase lendária Antares (Projeto Antares #1), dizem por ai que, um bom ciclista é aquele que conhece bem seu equipamento, e quem melhor para conhecer algo do que quem cria?


Que fique bem claro que apesar de ser um pedido da rainha da casa (com todo respeito a minha eterna rosa), minha esposa, decidi ser muito mais cauteloso, não gostaria de conceber um bom equipamento para ficar em um canto escuro da casa acumulando poeira e apenas ocupando espaço. Meu desafio sempre foi mostrar o quão maravilhoso pode ser andar de bicicleta, lançando mão de relatos de passeios e viagens, benefícios para a saúde e para o bolso, afinal, não se gasta gasolina e nem tempo ficando engarrafado no trânsito, isto para não citar a manutenção mais barata que de um veículo automotor; e nem irei entrar no mérito de diminuição de estresse e prevenção de um monte de outras dores de cabeça. Mas e para quem já tem uma certa paixão pelo ciclismo, já viu e conheceu seus benefícios? Como montar uma bicicleta digna de tal ser iluminado? Pois então, me foi proposto um bom desafio e adorei cumprir cada etapa meticulosamente, como se fosse uma nova Antares, uma nova lenda.

A origem


Como dito no excelentíssimo filme "A origem" (título original: Inception), uma ideia quando bem plantada no subconsciente, aprofunda as raízes, cresce e floresce... e algumas vezes até cria ramos e frutos. Convivendo com um ciclista, seria de se esperar que hora ou outra o vírus da bicicleta afetaria minha mulher, a ideia inicial seria pequenas viagens até o mercado ou farmácias, onde geralmente o acesso de carro é difícil e/ou demorado; por sorte, ela já possuía uma bicicleta, que diga-se de passagem, velha de guerra com 18 anos de uso:


Depois de ela ir tomando gosto por viagens cada vez mais longas, decidi fazer algumas melhorias e a bicicleta passou a ter maior autonomia e resistência; logo surgiu a ideia de ir ao trabalho de bicicleta, o que ajudaria a prevenir situações estressantes no trânsito, não precisaria pagar estacionamento e além disso, ainda seria possível realizar pequenas paradas para ir aos mercados durante o caminho de volta:


A grande virada aconteceu quando decidimos ir ao movimentadíssimo festival italiano em Curitiba, como de praxe, os estacionamentos ficam caros e as vezes inacessíveis, pois lotam facilmente; diante deste cenário, optamos pela bicicleta e deu tudo muito certo, sem nenhuma dor de cabeça, chegamos e saímos do festival sem nenhum empecilho quanto aos gastos com gasolina ou estacionamento, e o melhor,  sem perder tempo.

Deste dia em diante, minha esposa deixou de ser uma mera "bicicleteira" e praticamente se transformou "na louca da bicicleta". Logo vieram novos objetivos, me acompanhar nos treinos, possíveis viagens, alcançar benefícios para a saúde, bater recordes pessoais, melhorar a resistência aeróbica e por aí adiante; juntamente a isto, veio também a necessidade de novos equipamentos...alguns inclusive, básicos: luvas, capacete, top, bermuda de ciclismo e outra bicicleta. Nasceu então o pedido de eu montar uma nova bicicleta para ela; logicamente que diante de tamanha evolução que foi muito além da empolgação inicial que a maioria das pessoas tem e logo desaparece, não pude negar e abracei a ideia; no entanto, uma boa construção demanda tempo e para não deixarmos os treinos de lado e até que concluísse minha tarefa, negociamos uma bicicleta urbana aro 700 da TITTO, que aliás, recomendo:


E então, passaram-se os dias com muito suor gratificante, bastante espera e ansiedade. A ideia aqui foi construir uma bicicleta com as seguintes características:
  • Confortável: Afinal, são dias e dias em cima do selim.
  • Versátil: Para ser usada no que der e vier, trilha, cicloturismo, idas ao trabalho.
  • Durável: Nada de obsolescência programada, deve que resistir bem a passagem do tempo.
  • Resistente: Tem que ter capacidade de levar peso no caso de uma viajem longa de cicloturismo; e receber impactos, pois no Brasil, nenhum asfalto é perfeito.
  • Simples: Nada de peças de difícil reposição ou manutenções periódicas curtas.
  • Compatibilidade: Assim como simplicidade, a bicicleta deve ter boa aceitação das mais variadas peças do mercado, inclusive daquelas encontradas em bicicletarias de fim de mundo.

Diferente das vezes anteriores, notei uma facilidade muito maior em encontrar quadros femininos, mas foi só isso, pois peças em cores aceitas como femininas, rosa, roxo ou lilás praticamente não existem ou são absurdamente caras, a exemplo, cheguei a encontrar um porta-caramanhola a R$ 99,00...roubo descarado, mas ninguém é obrigado a consumir não é?! Pois é, no Brasil, existem muitos empreendedores, mas poucos inovadores, em Curitiba por exemplo, basta ir a um parque e logo se nota que de 10 vendedores de lanches, 9 vendem churros ou caldo de cana, ou seja, se você quiser um salgado ou algo mais "fitness"...pode esquecer; e o mesmo ocorre com as bicicletarias, são TODAS praticamente iguais...mesmo preço, mesmo produto, mesmas cores...até parecem que são farmácias vendendo o mesmíssimo produto. A solução foi vasculhar a internet a fundo, tão a fundo que quase chego na "deep web", hahahahahaha.

Escolha do Quadro


Pelo custo benefício, compatibilidades e grafismos, escolhemos um quadro RAVA, subdivisão da TSW, modelo Nina para uso com rodas 29 e tamanho 17,5. Gostaria muito de ter escolhido um modelo posh, porém agora a TSW só está vendendo bicicletas completas.

Quadro rava Nina




Freios


Avid BB7 mecânico, em cinco anos nunca me deixou na mão e garanto que é melhor que muito freio hidráulico, fim de papo.

Freio mecânico avid BB7


Suspensão


Aqui sempre um tema sempre polêmico, mais de cinco anos depois de montar minha primeira bicicleta, ainda lanço perguntas em fóruns e grupos de conversa e ainda obtenho as mesmas respostas:

- "Gente, estou querendo montar uma bicicleta...quero gastar até R$ 500,00 em um suspensão; o uso principal serão estradões, viagens e trilhas leves...qual vocês indicam?"


- "Compra uma a ar da marca a partir de R$ 2000,00 que essa é boa..."


- "Se fosse você, iria de manitou a diferença de desempenho é grande...(só esqueceu de dizer que a de preço também...hahahahah)" 


- "Legal cara, mas suspensão boa mesmo é fox...rockshox...proshocks..."


Opiniões levando em conta a marca ao invés de tipo de uso e/ou custo-benefício...é tipo perguntar qual carro deveria comprar para ir ao trabalho e ouvir como respostas: Compra uma ferrari ou um mustang... Aqui, é bom deixar muito claro que não existe certo e errado sobre escolher uma suspensão ou outra, porém, deve-se levar em conta conforto, custos, tipo de uso e manutenção. Um garfo rígido dá manutenção quase zero, mas depois de dias pedalando a dor nas juntas castiga qualquer um, já uma suspensão aumenta muito o conforto e segurança, porém adiciona peso e manutenção. Um modelo que utiliza molas é simples, já modelos a óleo ou ar permitem ajustes muito finos... mas convenhamos que estes ajustes servem muito mais para quem realiza competições do que para quem quer apenas curtir um ritmo de passeio sossegado.

Apesar de todos os pesares, ainda sou inclinado a uma suspensão simples, onde a manutenção seja fácil, barata, rápida e ainda proporcione uma pedalada sem medo de roubo, uma vez que os modelos indicados pelos colegas não custam menos de R$ 1500,00...

Até o presente momento, a spinner 300 S que equipa minha antares não deve em nada em custo de manutenção, durabilidade e as vezes até mesmo desempenho; pois é, uma suspensão de mola de uns 3 kg e pouco me leva onde qualquer outra a ar ou a óleo também pode levar, mas com diferenças gritantes em manutenção e durabilidade (já ouvi relatos de suspensões a ar durando menos de 6 meses de uso...).

Assim, optei por uma Spinner 300 (afinal, em time que está ganhando...), todavia, com um cartucho hidráulico ao invés de apenas mola e trava no ombro; isto apenas para melhorar o conforto e ajudar nas subidas. 

Spinner 300 personalizada

Rodas e pneus


Aqui, vale ressaltar que para mim, que peso algo entre 66 - 68 kg; praticamente qualquer roda me atenderia bem, mas, para quem tem problemas com a balança, é bom pesquisar muito a fundo o limite de peso de cada aro; assim, escolhi um aro da vzan extreme pro, que suporta facilmente pesos acima de 100 kg. Apesar de resistente, este aro é bem pesado, mas certamente aguenta o tranco, afirmo pois utilizo a anos em minha antares sem muitos problemas. Uma observação simples, porém bastante importante é que deve-se levar em consideração o peso do ciclista, das bagagens e acessórios.

Quanto aos cubos e raios, Alivio 4050, pois representou o melhor custo x benefício na época em que realizei a pesquisa e aros em inox preto, apenas pela durabilidade e estética. Assim como ocorre com as suspensões, existe uma certa polêmica entre cubos de esferas e cubos de rolamentos, bem, utilizo um de esferas da shimano e têm me atendido bem, já pedalei com cubos novatec de rolamentos e também me atenderam por igual, neste caso, subjetivamente não percebi diferenças gritantes.

No que diz respeito aos pneus, para quem busca durabilidade e boa aderência sem dúvidas o Kenda Smallblock eight 2.1 é o que há; corre bem tanto em terra quanto em asfalto.

Roda VZAN extreme com pneus mistos Kenda smallblock eight 29X2.1

Transmissão


Escolhi um grupo de 10 velocidades, que até o momento tem sido muito bom comigo e com meu bolso:

Cassete: Shimano deore XT 771 11x36 de 10 velocidades, desmontável, o que torna facilmente possível o uso de supercog colorido, apenas por isso mesmo (mentira, a durabilidade é invejável também).

Câmbio e passador: Deore 10v GS, uma vez que a cereja do bolo da minha antares, o shimano zee tem limite de apenas 36 dentes.

Corrente: Shimano deore 10 velocidades, apesar de ter amado KMC, optei por colocar tudo shimano.

Pedivela e coroa: Da racework, modelo dream integrado, pois a manutenção é MUITO mais prática que um eixo quadrado ou octalink; é um risco, pois não encontrei nada que aponte desempenho ou durabilidade, mas pelo tipo de uso que faremos da Nina, acredito que dure alguns anos. Quanto a coroa, optei por uma com 32 dentes, nem preciso dizer que obrigatoriamente precisou ser narrow wide.

Guidão: Uma das propostas da Nina seria cicloturismo, viagens curtas, passeios pela cidade e estradões de terra batida, então escolhemos um guidão borboleta para equipa-la. Este tipo de guidão permite várias regulagens e diversas "pegadas", melhorando muito o conforto durante longos pedais. Não acho tão estiloso ou bonito, mas não foi escolha minha.

De modo geral, uma relação muito, mas muito leve, adequada a vários tipos de terreno e usos, em especial ao sul do país, onde quase nada permanece plano por muito tempo e constantemente as rotas são alternadas entre asfalto e terra.

Coroa Narrow wide

Pedivela racework dream com movimento central integrado

Guidão borboleta

Câmbio Deore M6000 de 10 velocidades

Cassete shimano deore XT 771 11x36 de 10 velocidades 


Mas e a Nina, como ficou ao final das contas?

A seguir, mais fotos e detalhes






























Montando uma oficina bem aos poucos










Caixa de ferramentas que ganhei no meu primeiro dia dos pais. Super útil

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