“Tem remédio para tosse?”


Esta é uma das perguntas mais clássicas dentro das farmácias e muito provavelmente o estabelecimento terá sim o tal “remédio” para tosse, aliás, terá muitos “remédios”, o que pode gerar uma pequena confusão durante o atendimento: Qual utilizar? Qual o melhor? Quais diferenças de um para outro?

Antes de realizar a escolha do tratamento, é necessário conhecer um pouco mais sobre o vilão que estamos enfrentando, e para isto, será preciso instigar o cliente a descrever o mal que tanto o incomoda.


O que é tosse afinal de contas?

A primeira vista, pode não parecer, mas tosse é um mecanismo benéfico que possuímos para manter limpas as passagens de ar em nossas vias aéreas de qualquer corpo estranho, como poeira, secreções, bactérias, vírus, fungos e até comida (isso mesmo, até comida!!!) que vão para o lugar errado. Portanto, antes de mais nada, tosse é um reflexo natural de defesa do organismo; no entanto, em alguns casos também pode ser sinal de algum problema de saúde mais grave.

Podemos classificar a tosse em dois tipos: produtiva ou não produtiva

Tosse produtiva: É acompanhada de secreção. Geralmente aparece para expulsar dos pulmões e das vias aéreas o muco (catarro) juntamente com partículas estranhas, ou seja, é uma tosse “protetora”. Por isso mesmo, não é aconselhado tomar medicamentos que parem este tipo de tosse pois o muco pode ficar acumulado nos pulmões levando a uma série de complicações.

Tosse seca: Caracterizada pela ausência de muco, pode ser causada por diversos motivos que, em comum, causam irritação das vias aéreas. O inicio de resfriados, alergias, gripe, poeiras, ar extremamente seco, produtos químicos e etc. Muitas vezes ela provoca sensação de coceira na garganta. É uma tosse considerada inútil e sem finalidade protetora, já que não contribui para a limpeza das vias aéreas. Neste caso podemos utilizar medicamentos que diminuem a frequência da tosse, chamados de antitussígenos.


Causas da tosse


Causas agudas: Bronquites, infecções respiratórias, processos alérgicos.

Causas crônicas: ASMA, refluxo gastroesofágico, gotejamento retronasal, Medicamentos de uso contínuo.


“Tratando” a tosse

De modo geral, xaropes atuam apenas como coadjuvantes, aliviando apenas o sintoma, sem tratar a causa do problema. Quando a doença é tratada como um todo, e não só a tosse especificamente, outros sintomas como a dor de garganta e infecções também desaparecem.

Existem diferentes tipos de xarope que funcionam para diferentes tipos de tosse. Os medicamentos calmantes da tosse são divididos em antitussígenos, expectorantes e mucolíticos e apresentam ações diferentes e, logo, devem ser usados em casos específicos.

Os antitussígenos são representados pelo dextrometorfano, dropropizina, cloperastina e clobutinol, possuem ação no centro nervoso da tosse e devem ser usados apenas na tosse seca. Esses medicamentos agem no sistema nervoso periférico e diminuem a vontade de tossir ao aumentar a tolerância ao estimulo causador da tosse, ou seja, será necessário um estímulo muito maior para que a tosse ocorra. Neste grupo, há também a codeína, que possui mecanismo diferenciado, pois atua no sistema nervoso central, deprimindo estímulos de tosse, pode causar sedação e redução da respiração, por isso é contra indicada em casos de asma.

Os expectorantes são representados pela guaifenesina e iodeto de potássio; devem ser usados na tosse produtiva. Não se sabe ao certo o mecanismo de ação exato destes medicamentos, mas sabe-se que atuam estimulando uma maior produção de muco pelas glândulas do trato respiratório. A maior produção de muco facilita a remoção pela tosse. Como se pode ver, os expectorantes não diminuem a tosse, pelo contrário, eles facilitam a expectoração pela tosse. Apesar da boa aceitação da população leiga, sua eficácia não é bem definida.

Os mucolíticos ou fluidificantes são representados pela acetilcisteína, bromexina, ambroxol e carbocisteína, devem ser usados na tosse produtiva. Eles rompem as ligações dissulfeto presentes no muco, essas ligações são responsáveis por conferir viscosidade e o aspecto normal do muco, tornando-o mais líquido e facilitando a sua eliminação pela tosse ou pela deglutição. Esses medicamentos, também, não reduzem a tosse, apenas auxiliam a expelir o muco.

Há disponível no mercado algumas associações entre essas substâncias para maximizar o efeito contra tosse e secreções. No entanto nem toda associação leva à um efeito adequado, como por exemplo a associação de dextrometorfano e guaifenesina. As duas substâncias, com ações diferentes, competem entre si. Uma alivia a tosse (dextrometorfano), e a outra (guaifenesina) estimula a tosse para expelir o muco. Quando escolhemos uma associação, devemos levar em consideração todas as substâncias presentes e o efeito que elas irão provocar para realmente termos o alívio do nosso problema. Em casos de tosse de origem alérgica, medicamentos anti-alérgicos podem ser administrados em conjunto com os antitussígenos ou isoladamente.

Um xarope mal escolhido pode agravar e encobrir um quadro mais grave de infecção ou alguma doença mais grave.

Xarope errado traz complicações e não cura tosse

Dicas além da farmácia...

Algumas medidas não farmacológicas também podem ser úteis para amenizar a tosse:
  • Beber bastante líquido, pois boa parte do muco contém água em sua composição
  • Evitar álcool, cafeína e tabaco 
  • Evitar esforço das cordas vocais 
  • Umidificar o ambiente 
  • Descansar 
  • Realizar inalação com solução fisiológica


Curiosidades

  • Alguns medicamentos para tratamento da hipertensão da classe dos IECA (inibidores da enzima conversora de angiotensina, ex. Captopril e enalapril) podem causar tosse seca como reação adversa. 
  • Esterofilia é a condição de adorar o som da tosse ou espirro. Tem gosto pra tudo 
  • Alguns casos de refluxo gastroesofágico também podem causar tosse, devido a ação irritante do ácido gástrico nas vias aéreas. 
  • Medicamentos líquidos, incluindo aqui os xaropes, perdem até 75% do prazo de validade após abertos. Tomando como exemplo um xarope com validade de um ano, chega-se a conclusão que o tempo real de uso será de apenas três meses após a abertura. A partir do momento que abrimos a embalagem já há uma contaminação natural, que são as bactérias e vírus do ar.
  • A bronquite asmática é a inflamação dos brônquios pulmonares, que são locais por onde o ar passa, causada por uma alergia e, por isso, muitas vezes ela também é chamada de bronquite alérgica, ou simplesmente, Asma. Suas causas estão relacionadas à alergia respiratória e algumas vezes, a tosse do asmático pode aparecer sem qualquer outro sintoma tradicional da doença, como chiado no peito e sensação de aperto no tórax. Ela piora à noite e após esforços e exercícios físicos, podendo esta ser tratada com antialérgicos, broncodilatadores ou corticoides.
  • Apesar de sentirmos um maior incomodo nas vias aéreas, o corpo humano possui receptores para tosse em diversas regiões, como ouvidos, intestino, esôfago... por isso, alguns tipos de tosse tem origem aparentemente “bizarra” ou não condizente com a clínica.



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