A dor, o tempo e a esperança
Ah, a dor da perda… Quando ela nos chega sem aviso, dilacera o coração, deixa nossa alma em frangalhos e, não existe nada, nem ninguém, nem gesto ou palavra que consiga abrandá-la enquanto ela está ali latente, queimando no peito, doendo, doendo e doendo. A dor espreme o coração com tanta força, que parece que tudo ficará em mil pedaços, mas no fundo já sabemos que está! A dor transforma em caquinhos tudo o que parecia ser inquebrável.
Não somos criados para perder, nada! E quando tudo que mais amamos se vai num golpe, nosso mundo perde o sentido, não vemos mais razão para nada, não sobra espaço para nada, só para dor. Nosso pensamento, atordoado, alimenta ainda mais a dor, pois, fomos criados para o apego e, desapegar das pessoas pelas quais cultivamos amor, carinho e com as quais dividimos alegrias e tristezas, é inaceitável e nos faz perder o chão.
Todos passamos por isso um dia e quem nunca passou, talvez sentirá, o quanto dói essa dor. E passam dias, passam noites, semanas e talvez meses e talvez anos e, sem nem sabermos bem o porquê, aquela dor que nos fez em mil pedaços, que nos desestruturou, nos tirou o chão, vai se transformando em algo menos dolorido, vai passando a ser uma pontada e quando nos damos conta, sentimos apenas uma forte fisgada que fez da dor uma imensa saudade.
É o tempo, que de mansinho, sem fazer alarde, coloca compressas na nossa ferida, colando os caquinhos do nosso coração, afagando nossa alma, cuidando de tudo, pacientemente, com a certeza plena que só ele tem, de quem um dia, tudo doerá muito menos e que tudo virará uma grande saudade. E de repente, diante dos nossos olhos, a dor que parecia incurável, insuportável, dá lugar a outros sentimentos, mostrando um novo sentido para vida.
Assim, surgi à esperança de novos tempos, que vem aos poucos, sem nem bem percebermos e a nossa vida enxerga que ainda há espaço para outras felicidades, que o quê ruiu na hora da perda; talvez, de alguma forma pode ser reconstruído, nunca substituído, mas ser renovado, recomeçado. Podemos e devemos continuar, pois, ainda que sofrida e com todas as marcas da dor, temos a nossa vida para viver, e devemos fazê-lo com toda a nossa intensidade, pois temos outras tantas pessoas que nos rodeiam, que nos amam e que nutrem esperanças por nós.
A dor, bem, essa, vez e outra aparecerá para nos colocar de novo no chão, dilacerar nosso coração, flagelar a nossa alma, pois são tantos os nossos apegos, tantos amores pelos quais não queremos nos desfazer, mas, na vida, fugir dessa dor é inevitável. E vamos sangrar várias vezes, até que o tempo, pacientemente, deixe apenas as cicatrizes de saudade e a esperança apareça novamente mostrando um caminho livre para recomeçarmos.
Texto do dramaturgo Paulo Sacaldassy
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