Projeto Rosa peregrina: Conclusão

Desde antes desta bendita pandemia aportar em terras tupiniquins já havia planejado montar uma bicicleta gravel ou uma touring, ou seja já havia tempo, e finalmente pude concluir mais este projeto, o da Rosa Peregrina. Adoro demais minha MTB antares (Projeto Antares #1), esta aliás já tem boas histórias pra contar, mas desde minha mudança para o sul brasileiro, confesso que pedalo cada vez mais em asfalto de acostamento do que em trilhas de terra e lama e partindo dai, veio minha vontade (não necessidade) de ter uma bicicleta mais condizente com tal realidade, chutaria algo mais ou menos 60%/40% de asfalto e terra respectivamente.

Como já era de se esperar do Brasil, praticamente só existe o mercado que te empurra coisas, ou seja, bicicletas aro 29 com suspensão e pneus cada vez mais largos ou bicicletas de estrada (speed) cada vez mais leves e mais caras ainda. A modalidade gravel ou touring inexiste e para quem curte, só resta fazer adaptações e gambiarras ou importar de fora do país.

Felizmente conheci diversas lojas internacionais que realizam entregas para o Brasil, dentre elas, o aliexpress; e tomei conhecimento também do mercado de framebuilders brasileiros, deste aqui, escolhi a República (República.cc | Bicicletas sob medida feitas no Brasil (republica.cc), que na época me mostrou o melhor projeto para o que eu tinha em mente. Depois fechar a encomenda e de confirmar as especificações do quadro, corri atrás de peças compatíveis, para quem não sabe o processo de fabricação de um quadro por durar entre 60 a 180 dias a depender do projeto.

A ideia é ter uma bicicleta estradeira, versátil, durável, baixo custo de manutenção e estilosa. Aqui, mostrarei o resultado final deste projeto gravel, considerações a serem levadas em conta, o que poderia melhorar, e claro, minha opinião pessoal.


Início da montagem, todas as peças estão nesta foto


Frameset


O frameset escolhido por mim foi o modelo Ushuaia da república, das principais especificações customizadas para mim:


  • Quadro e garfo em CrMo
  • Caixa de direção over
  • Caixa de pedivela 68mm
  • Tire clearance para 27,5 x 2.1 ou 700 x 40
  • Canote 27.1
  • Guias para cabos
  • Gancheira removível
  • Suporte para freios a disco
  • Suporte para bagageiro dianteiro e traseiro
  • Cinco Suportes para caramanhola


A cor do frameset também é customizável também e então decidi fazer jus ao nome e o projeto ficaria mais ou menos assim:


Desisti por conta da politização extrema que ocorre no país utilizando as cores do Brasil, uma pena, mais para frente quem sabe...

Uma curiosidade neste projeto da Ushuaia foi o tubo de canote que chegou na medida 30.9 ao invés do 27.2; inclusive a própria república enviou um adaptador para utilizar com a medida combinada. Enfim, com a escassez de materiais devido a pandemia, eram de se esperar algumas modificações.


Rodas


Kenda alluvium 700x40 com aros vzan extreme pro


Em diversos fóruns, vídeos e conversas de bar quando o assunto chega em "rodas" independente de ser MTB ou gravel, a conclusão é mais ou menos assim:

"Pneu de gravel tem que rodar com tubeless e praticamente vazio..." 

Minha mente só conseguia pensar nesta figura e se ela seria verdadeira ou não:


As rodas da Rosa peregrina foram equipadas com pneus Kenda alluvium pro 700 x 40, que aliás até o momento recomento demais, mas ao contrário do que indicam os "especialistas", a bicicleta está girando com aros Vzan extreme pro utilizando câmaras e com pressão dentro do recomendado pelo fabricante do pneu, ou seja... nada de tubeless e nada de pneus vazios. Sinceramente, ainda não me faz falta o gasto extra e fixo com selantes, fitas, taxa de serviço, protetores de aro e bicos; tudo cada vez mais caros. Certamente pneu furado é chato demais, mas nada que um bom remendo não resolva.

Quanto ao quesito conforto, uma gravel é mais "dura" do que uma MTB com suspensão, mas são se enganem, não é uma diferença muito grande não. Para "suavizar" impactos, os ombros, braços e mãos ficam mais soltos e mais flexíveis.

Aqui a mancada é o toe overlap quando utilizo o aro 700, a roda roça na ponta do calçado ao realizar uma curva pedalando, simplificando em uma imagem, é isso:


Toe overlap

Não sei exatamente se isto estava previsto ou não no projeto original, como fã do aro 650b, havia encomendado um quadro para aros 650b; acontece que com a tal pandemia, ficou impossível comprar pneus decentes nesta medida e acabei utilizando aros 29" com pneus 700. Abaixo a bicicleta com aro 29" e o 650b da antares:


Isso sim é uma escolha muito difícil

Transmissão

Relação 1x9 microshift advent


Este ponto é sempre polêmico; primeiro porque logo vem um ou outro falando da marca S que custa o dobro do preço ou da outra marca S que custa o quíntuplo do preço do grupo que escolhi. As marcas S são ruins? Claro que que não são, do contrário não seriam lideres mundiais no seguimento; por isso, existe uma grande pressão no mercado que afirma que TEM QUE SER DAQUELA BENDITA MARCA, do contrário... Não presta; contudo, existe uma diferença abissal entre não ser líder de mercado e não prestar. Assim, escolhi utilizar o sistema que mais causou burburinhos no exterior depois de seu lançamento, o advent de nove velocidades da empresa Microshift.

Para quem não sabe a Microshift já fabrica sistemas de transmissão desde 1999 e sinceramente caros leitores, é MUITO raro encontrar reviews negativos sobre os produtos mais novos da marca Taiwanesa. Claro, fora do Brasil, porque aqui dentro só quem manda é quem obedece a regra do "quanto mais caro, melhor".


O segundo ponto polêmico é mais técnico, uma ou duas coroas? Quantos dentes em cada? Para meu uso que acostumou com 36 dentes em uma coroa única, cassete 12-36 e dane-se a cadência, nada mais natural que continuar no time 1x, porém, uma gravel não é uma MTB e depois de algumas dúvidas decidi por utilizar um pedivela estilo hollowtech II da prowheel equipado com coroa 40 dentes, inclusive o tal GRX da marca S utiliza algo próximo a isso e o grupo APEX da outra marca S também.

A corrente, claro, de nove velocidades, mais grossa, mais barata e mais resistente que as de 11 e 12 velocidades que vêm reinando no Brasil. Quanto ao cassete, dei sorte de encontrar um modelo de nove velocidades com a relação 11-46! Pra quem leva o lance de cadência muito à sério, ler isso significa anos e inúmeras sessões de terapia.


Freios


Freios mecânicos zoom DB-680


Mais um ponto polêmico, mas irei resumir, se você tem grana, compra logo um dropshifter hidráulico e não perturbe mais ninguém, para quem não tem, ficam ai os mecânicos de fácil aquisição, regulagem e manutenção. Havia adquirido um Spyre da TRP, mas no meio do caminho descobri o modelo DB-680 da zoom, este custando menos da metade do preço e pasmem... IDÊNTICO ao trp spyre. Decidi testar e para meu uso que não inclui downhill achei bom e seguro, até então deu conta do recado.


Considerações finais


De maneira geral, adorei muito a experiência de pedalar com uma bicicleta estradeira feita em aço e cheia de possibilidades, diferente da MTB, esta me exigiu muito mais técnica para pedalar. Sair do guidão reto para um flared drop me rendeu muita estranheza e algumas quedas, o freio e os comandos mudam de lugar, parece obvio, mas explicar isso ao instinto do cérebro é mais complicado.

O tamanho de rodas 29"/700c definitivamente não é para mim, mas precisava testar para confirmar, não que sejam ruins, mas gosto de pneus mais gordos, em um futuro que espero que seja próximo, devo montar um jogo de rodas 27,5 que vai me cair bem melhor, além de ainda ter a vantagem de absorver melhor as imperfeições do solo, deixa a bicicleta com visual mais agressivo e evita o tal toe overlap.

Quanto a transmissão, também gostei muito do conjunto, até cheguei a acreditar que uma coroa de 36 ou 38 dentes seria melhor aproveitada em minhas pernas, mas ao pedalar com outros ciclistas MTB ou até refazendo os mesmos caminhos que fazia com minha MTB antares, noto que a relação ficou boa.

Apesar de ainda não estar do jeito que gostaria, já posso afirmar que a bicicleta supriu minhas necessidades pelos caminhos que costumo pedalar; em um futuro um pouco distante a bicicleta já estará perfeitamente ajustada, dai serão outras demandas: bagageiro dianteiro, bagageiro traseiro, suporte de lanterna, algum clip de triatlo no guidão? Quem sabe.


Mais fotos
















Comentários

Postagens mais visitadas