E a tal liberdade...?
Ora, parece um grande paradoxo que liberdade seja uma prisão, e pior, segundo o profeta, a maior delas. O grande inquisidor, personagem de Dostoieviski, talvez traga um pouco de luz ao tema.
O Grande Inquisidor o observava de longe, no meio da multidão, e ordena que ele (Jesus) seja preso e trazido à sua presença. Então, diante do prisioneiro silencioso ele profere a sua acusação.
Para o grande inquisidor, a humanidade como um todo jamais poderá ser “livre”, pois o homem em conjunto faz três grandes exigências à vida, e não poderá sobreviver se essas exigências não forem satisfeitas.
- Ele exige pão, e não apenas como alimento, mas como um milagre, vindo da mão de Deus;
- Ele exige mistério, o sentido do miraculoso na vida;
- Ele exige alguém a quem se curvar (e a quem aliás, toda a humanidade deverá se curvar também)
Essas três demandas, por milagre, mistério e autoridade, impedem o homem de ser “livre”. Elas são as “fraquezas” do homem. Somente alguns poucos, os eleitos, são capazes de se abster da necessidade absoluta de pão, milagre, mistério e autoridade. Esses são os fortes, e eles devem ser como deuses, para serem cristãos e cumprir com todas as demandas de Cristo. Todo o resto, os milhões e milhões de seres humanos de todos os tempos, são como bebês, crianças ou gansos, demasiados fracos, “impotentes, viciosos, inúteis e rebeldes” para partilhar do pão da terra, caso lhes reste alguma migalha. Ao final das contas, Jesus e sua obra são inadequados e ultrapassados para a bestialidade humana.
O Grande Inquisidor conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas de posse dela são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade é amedrontadora.
Ainda segundo o grande poeta Rubem Alves em três brilhantes textos complementa o conceito de liberdade:
Voltamos ao profeta e constatamos que verdadeira liberdade não mora em ilusões de certezas; não se resume em ausências de responsabilidades, em inconsequências, irresponsabilidades e comodidades constante; estas sim, são grades, grilhões e algemas. O exercício de ser livre é cruel e doloroso, confunde sentidos e sentimentos; as vezes dá nostalgia, saudade e culmina em solidão.
Por isso, válida é a pergunta... Para que serve essa tal liberdade? O próprio Gibran nos dá uma belíssima resposta:
"Tanto a semente intacta, como aquela que está rompendo sua casca tem as mesmas propriedades. Entretanto, só a que está rompendo sua casca é capaz de lançar-se na aventura da vida.
Esta aventura requer uma ousadia única: descobrir que não se pode viver através da experiência dos outros, e estar disposto a entregar-se."
No mais:
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