Empurrobicicletaria


Dia destes em dos grupos de pedal postaram o "MEME" acima, depois de rir muito (porque gosto de piadas sarcásticas e inteligentes), fiz a seguinte colocação: "No Brasil de hoje você, entra em uma bicicletaria e basicamente só tem coisas de aro 29, ou você usa, ou importa de fora ou simplesmente não pedala". No grupo em questão, existem alguns donos de loja, ciclistas patrocinados, ciclistas noturnos ou de final de semana; o curioso é que apenas os donos de loja concordaram, o restante sequer havia percebido a existência desse cenário.

Eu mesmo só dei conta dessa hegemonia impositiva quando precisei comprar um pneu 27,5 novo; após MUITAS visitas físicas e virtuais nas bicicletarias... adivinhem só, praticamente só haviam peças para aro 29.

Parece que você tem muitas escolhas, mas não se engane, tudo farinha do mesmo saco, só muda cor e marca. Ou leva aro 29 ou não pedala

Em um projeto recente, montei uma bicicleta para minha esposa, como ela escolheu um quadro 29, todo o restante precisou ser 29 também. Nunca havia pedalado em um tamanho destes, mas após a experiência, continuo amando ainda mais minha 27,5 (650b); para mim, as rodas 29 foram grandes demais, pesadas demais, caras demais, aceleração mais lenta, difíceis de guardar em paraciclos e malabikes, curvas mais difíceis...e por ai vai; questão de gosto pessoal, mas o importante aqui é frisar que hoje no brasil não há muitas outras opções para pessoas como eu, que não curtiram muito rodas maiores. Infelizmente, Estas imposições vão muito mais além que tamanho de rodas e pneus.

No processo de montagem, acabei importando várias peças de fora do Brasil, pelo preço mais em conta ou pela indisponibilidade no mercado nacional, pois é, quando olhamos para fora do país, descobrimos que o Brasil é muito limitado mesmo, simplesmente não há opções. As peças se resumem a cores como preto, vermelho, branco, azul, cinza ou amarelo; o que demonstra a frágil masculinidade do homem brasileiro e a clara exclusão das mulheres no mundo do ciclismo nacional; quando olhamos os grupos de transmissão, ai o buraco vai mais pra baixo, uma espiada lá fora e vemos marcas como Sram, shimano, Campagnolo, microshift, Sensah, sunrace, box, hope e outras "degladiando" nos sites de venda, competições e ruas; no Brasil só há uma opção de marca acessível, shimano, pois o restante é de qualidade no mínimo dúbia.

Como se não bastassem as limitações de tamanho de aro e grupos de transmissão, há ainda a limitação de modalidades, basicamente só existem duas, speed e MTB; ofertas decentes para outros segmentos como bicicletas urbanas, gravel, downhill, cicloturismo e "cargueiras" BOAS e acima de tudo condizentes com o bolso do brasileiro são muito raras. E nem irei citar o desconforto na geometria das bicicletas 29 ofertadas ou o uso compulsivo e algumas vezes desnecessário de suspensões de mais de R$ 1500,00... ou ainda a ausência quase completa de um mercado de boa qualidade de acessórios para bicicleta.

Fato é que, como disse em um artigo a Renata Falzoni, a grande indústria brasileira imagina que seu mercado, é composta de "mountain bikers" e "speedeiros" competidores de 1,75 ou mais de altura. Isso abre espaço para um mercado cada vez maior de framebuilders, a republica.cc por exemplo está com uma fila de espera de 4 a 6 meses, borniaecox com 4 meses e cernunnos, nem previsão...

Esse dólar que não cai...

Para um projeto futuro (que logo mais pretendo publicar algo), assim ficarei eu, a mercê das taxas absurdas de importação, mendigando informações pela internet, enviando infrutíferos emails para empresas importadoras de peças e ainda, sendo zoado pelos grupos de pedal que acha que tudo o que é novo é melhor que o antigo; que o bom obrigatoriamente deve ser o caro; que o importante mesmo é ter a MTB de carbono mais equipada do mundo com 12 velocidades, suspensão de menos de um quilo, mesmo que seja para pedalar em estradinhas de terra batida ao lado da cidade ou pegar um pedal noturno uma vez na semana.

Mais uma vez, como já falou (e ainda comenta), Renata Falzoni, bicicleta errada e ruim atrapalha o desenvolvimento do ciclismo nacional, e pelo pouco que pude mostrar aqui, a industria está se saindo muito bem em dar tiros nos próprios pés ao impor uma ou duas opções de escolha ao cilcista nacional.


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