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Igarapé Açu, Pará (Foto - Herson Vale) |
Foi realizada no último domingo (17.04.16) a edição anual da quase lendária trilha do dendê ou trilha da UFRA para os mais antigos; trata-se de um circuito de aproximadamente 47 quilômetros com saída e chegada no mercado velho da cidade de Igarapé-Açu; ao longo do caminho, muitas subidas; muitos insetos; muita lama; muitos e muitos igarapés; milhares de palmeiras de dendê (é claro).
Um pouco da história de Igarapé-Açu
Situada a aproximadamente 110 quilômetros de Belém, Igarapé-Açu quase teve um passado glorioso e hoje poderia facilmente ser polo turístico da região bragantina...mas...se não fosse por este quase...e pela inapetência e falta de visão dos políticos...
A marcha para formação do município iniciou-se em 5 de novembro de 1903, com a criação do povoado, ainda formado pelas terras da antiga colônia de Jambu-Açu. Em 26 de outubro de 1906 o governador do estado do Pará, Augusto Montenegro, assina a lei n. º 985, extinguindo o município de Santarém Novo e ao mesmo tempo criando o município de Igarapé-Açu, e ainda o elevava a categoria de vila.
Inicialmente, a colonização do município contou com colonos espanhóis, porém, a evolução desta colônia era muito lenta, mas com o assentamento dos trilhos da Estrada de Ferro de Belém-Bragança em 1901, o ritmo de ocupação intensificou-se. Acredita-se, que as obras de construção da estrada de ferro reclamavam a falta de elementos humanos, esta falta contribuiu para a fixação de algumas famílias de localidades vizinhas, como a de Santarém Novo e Porto Seguro.
No decorrer da história, foram incorporadas algumas localidades ao município de Igarapé-Açu, como a localidade de São Jorge do Jabuti, que na época pertencia ao distrito de Peixe-Boi. No quinquênio de 1939 a 1943 o município de Igarapé -Açu constituí-se dos seguintes distritos: Igarapé-Açu, Nova Timboteua, Peixe-boi, São Luís e Timboteua. No período de 1944 a 1948, o município se dividiu em dois distritos: Igarapé-Açu e Caripí, que em 1955 perdem parte do seu território para formar o município de Santa Maria do Pará. Hoje o município de Igarapé-Açu é constituído de dois distritos: Igarapé-Açu e Caripí, e dividido em 22 vilas e povoados.
Apenas a título de curiosidade, "Igarapé-Açu" é um termo de origem tupi que significa "grande caminho de canoas", através da junção de ygara (canoa), apé (caminho) e gûasu (grande); acredita-se que o nome Igarapé-Açu é derivado do sub-afluente do Rio Marapanim que banha a cidade e deu-lhe o nome.
Outra curiosidade pouco divulgada é que Igarapé-Açu chegou a servir como base aérea para os aliados durante a segunda guerra mundial, porém, diferente de outras bases, o foco neste caso foram os zepelins ou dirigíveis; segundo relatos, os dirigíveis seguiam ainda de madrugada até a região de Salinas para realizar rondas e voltavam para Igarapé-Açu já ao entardecer, o objetivo seria vigiar a costa contra os alemães e seus temíveis submarinos..
Igarapé-Açu hoje
Hoje, infelizmente, a cidade tem muito pouco de seu patrimônio histórico preservado, as locomotivas do tipo "maria-fumaça" não deixaram nenhum resquício, nem sequer os trilhos ficaram para mostrar a história. Das bases aéreas, ainda restam "ruínas", mas a cada ano estão desaparecendo por falta de manutenção.
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Mercado velho, em tempos antigos servia de parada para locomotivas |
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Antigo alojamento militar da base aérea |
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Alojamento praticamente entregue as traças |
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ancoradouro móvel para zepelins...também entregue à ação do tempo |
Mas já que não deu pra viver de turismo, Igarapé-Açu vive do cultivo de dendê. Graças aos planos de incentivo do governo federal em produzir biodiesel, muitas são as cidades paraenses que vem praticando a monocultura de dendê, inclusive, o estado é responsável por mais de 80% da produção nacional de óleo de palma extraído do dendê. Logicamente que uma produção tão grande assim acarreta muitas transformações: o produtor local deixa de produzir qualquer coisa para se dedicar exclusivamente ao dendê, ou seja, o indivíduo que antes produzia o próprio alimento, agora tem que pagar para consumir; as comunidades ao redor deixam de ter grandes variedades de produtos tornarem-se dependentes quase que exclusivamente da produção de dendê; a contaminação das águas pelo uso de produtos químicos nas plantações também é notória. Mas...a culpa toda é da falta de politicas para produtores rurais e a supervalorização de quem produz biodiesel, ou seja, culpa dos políticos...pra variar...
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Fruto do dendê |
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Monocultura de palmeiras... |
Preparativos para a viajem
Não havia ainda pensado em toda a logística para viajar até Igarapé-Açu, durante a noite anterior a trilha, o grupo de ciclistas do qual faço participação apenas combinou um encontro em Castanhal, em uma lanchonete bem popular por quem passa por lá; em seguida, tomar café e depois...pisar fundo até Igarapé-Açu.
Na prática, todos saímos de Belém as seis da manhã, tomamos café as sete e pegamos o pior trecho de qualquer viajem além região metropolitana de Belém, uma rua socada de radares e sinais em Castanhal; por fim, acabamos por chegar ao destino final as nove e meia; tudo certo, não fosse pelo detalhe que a trilha teve início as oito e meia, mas pedalar em grupo tem a vantajem de fazer as coisas sem muita pressa ou medo de ficar para trás. Amargurei muito o atraso, não pela falta do mundarel de pessoas que costumam ficar se mostrando, mas pela falta de fotos do centro da cidade que poderia mas não fotografei.
A Trilha
Idealizada e (muito bem) organizada pela fator outdoor, esta trilha tem início e fim no mercado velho da cidade, e durante o percurso, fica praticamente impossível se perder pois cada curva é sinalizada com fitas ou placas; inclusive, foi possível pedalar tranquilamente sem olhar para o GPS.
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Fita indicando o caminho correto |
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Placa orientando o caminho correto |
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Sinalizações de alerta bem chamativas |
Além da excelente sinalização, outra coisa para se tirar o chapéu foram os serviços de apoio para os inscritos, pontos de hidratação muito bem espaçados contendo muitas frutas e muita água gelada; mecânicos de trilha e motos de apoio, também servindo como fecha trilha.
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Caminhão de hidratação e apoio |
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Moto de apoio |
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Bicicleta de apoio... |
O passeio seguiu muito tranquilo apesar da lama e das infinitas subidas, o calor não chegou a ser um problema tão grande pois aqui e ali encontrávamos um rio ou igarapé para banho, além é claro, de muita mata fechada cobrindo o sol.
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Meus companheiros de trilha e um igarapé |
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outro igarapé... |
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Mais um igarapé |
Depois de incontáveis subidas e tanta lama, acabei por reconsiderar algumas coisas na minha bicicleta antares:
- Pneus Kenda smallblock 8 não possuem tração em pisos molhados, em pisos íngremes, em cima de árvores com limo ou em pisos tomados por lama fina, tão logo o que possuo ficar gasto, será substituído por um kenda nevegal;
- Relação 1x10 continua sendo muito eficiente, porém, em terrenos em que a corrente entra em contato com argila, a tendencia é cair, talvez corra atrás de um guia de corrente;
- Talvez seja hora...ou de treinar mais ou de reduzir a coroa nottable de 36 dente para uma de 30 ou 32 dentes.
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Pneus kenda small block 8 - sem tração em pisos molhados e íngremes |
No terceiro e último ponto de apoio me deparei com cenas de cortar o coração (é...muita gente não acredita, mas ainda tenho um, e ele não foi feito pra amolecer vendo coitados e tragédias de facebook). Deparei-me com uma gaiola grande, afastada de algumas casas e dentro dela haviam quatro papagaios presos, praticamente entregues ao relento, no chão, um pouco de milho e girassol; havia também uma tigela pequena com pouca água e ainda por cima, suja...
Depois de tentar quebrar alguma parte desta arapuca cruel e não conseguir, deixei água e maça para estes coitados; mais a frente, já no ponto de apoio propriamente dito, outra atrocidade, todos escutávamos o choro de um cachorro, e depois de procurar, acabamos por descobrir o motivo.
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Cadela presa e sendo devorada viva por moscas |
Depois de registrar esta atrocidade, o dono do local (ou assim pareceu-me), ainda fez deboche dizendo-me para procurar e tirar foto de um saci...Nem vou citar o que passou em minha cabeça no momento.
O percurso seguiu sem intercorrências, nenhum pneu furado, nenhuma queda, nenhuma corrente ou gancheira quebrada, ninguém desmaiando, apenas subidas e o cansaço aumentando cada vez mais, por fim, a estrada de terra terminou em uma estrada de asfalto de dar inveja aos moradores de Belém/Ananindeua:
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Ao longe, a chuva chegando |
Após pedalar e pedalar, finalmente chegamos novamente a rua principal da cidade, já debaixo de chuva, que minutos depois ficaria muito forte (provavelmente não tem nenhuma cidade que já tenha visitado que não tenha aproveitado pra tomar banho na chuva).
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Previsão de mais um banho de chuva, desta vez em Igarapé-Açu |
E assim, passou-se este domingo maravilhoso visitando Igarapé-Açu. Meus companheiros de trilha ainda ficaram mais um pouco para curtir um bom churrasco, mas não participei por estar sem fome naquele momento.
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Voltando para Belém, já com uma certa nostalgia de Igarapé-Açu |
Onde dormir
Desta vez não pude pernoitar na cidade, pois foi possível ir e voltar no mesmo dia, mas para quem vem de muito longe ou quer conhecer com mais tranquilidade a cidade, deixo três dicas de hotéis que foram repassadas pela organização da fator outdoor em Igarapé-Açu:
- Hotel Sales: Avenida Balbino Teixeira s/n; fone: (91) 3441-2000
- Hotel Iga Sat: Avenida Balbino Teixeira s/n, ao lado da igreja nossa senhora do carmo; fone: (91) 98276-7091
- Dormitório central: Avenida barão do rio branco, ao lado do posto Ipiranga, centro; fone: (91) 99150-6858; (91) 98330-7103
Mais fotos do passeio
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Plantação nova de palmeiras |
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Fita indicando o caminho correto |
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Último dos moicanos |
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Parada para reagrupar o povo |
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E lá vamos nós... |
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