Escrevendo com a luz

julho 25, 2015

Escrevendo com a luz

Sony Nex3 (18-55mm): Me preparando para um pôr-do-sol no forte do presépio

Raras são as pessoas que não possuem uma câmera nos dias de hoje, mesmo as de 1.3 MP inclusas em celulares básicos; muito comum também é ter toneladas de fotos em alguma rede social, mas será que sabemos escrever com a luz ou sofremos de uma espécie de "analfabetismo".

Desde que me entendo por gente, sempre tive muitos passa-tempos, os principais: blocos de montagem, ciclismo, fotografia, mecânica, física, química, biotecnologia, leitura, violino...mais fácil dizerem que não sei o que quero da vida. infelizmente por falta de recursos (financeiros ou tecnológicos) não foi possível aprimorar vários campos ao mesmo tempo.

Sempre curti guardar na memória os momentos, e não rostos, nomes ou feições ou locais...talvez isso me faça insensível diante de um mundo que prega o narcisismo como mandatório. Mas, como de costume, que se dane...um dia cansamos de esquecer quem ou como somos apenas para tentar seguir a lógica da maioria.

A palavra "fotografia" é formada pelo prefixo "foto", que significa luz, e pelo sufixo "grafia", que significa desenho ou escrita. Portanto, numa definição simplista, fotografia significa "desenhar com luz", "luz escrita" ou "escrever com luz". Ou seja, fotografia é um método de registro de imagens através da projeção da luz sobre uma superfície foto-sensível. Mas, definir fotografia apenas pelo conceito técnico é o mesmo que dizer que poesias são apenas textos com rimas...ou músicas são palavra com boa sonoridade e ritmo; "inaceitável de aceitar".

Pois bem, eis que um belo dia a esposa de um amigo volta de um passeio ao Panamá e Costa Rica, logo passa a contar as maravilhas do lugar: vulcões, culturas diferentes, mercados de escambo, paisagens estonteantes, pessoas excêntricas; os dias passaram-se e ela revelou o filme contendo o registro de seu passeio: uma decepção completa, nas fotografias não haviam mercados, não haviam registros sobre cultura, vulcões só apareciam bem no fundo das fotos (como segundo plano); ao final, o álbum só continha fotografias dela mesma e de seus companheiros de passeio. sempre em primeiro plano...o registro do quão maravilhosa foi a viagem e o lugar ficaram apenas nas histórias faladas, as belas e estonteantes paisagens tiveram que se contentar em ficar apenas como plano de fundo.

O trabalho de um fotógrafo é tentar "registrar o momento", no entanto é meio complicado (mas não impossível) tentar transmitir o calor, o frio, o barulho, os costumes, os cheiros, o calor humano ou simplesmente o silêncio; logo torna-se necessário escolher o que vai e o que não vai compor uma fotografia. Friso bem o trabalho do fotógrafo pois é ele quem vai dar sentido à uma composição, ele quem vai direcionar os olhares de quem vai ver a fotografia. No caso desta conhecida, suas fotos apenas focaram ela mesma inserida em um local, viajar para o exterior pode ser motivo de orgulho e fica bacana um registro que ela esteve lá...mas...um álbum inteiro mostrando este orgulho, indica apenas o quão egocêntrica ela é.

Depois de participar de vários passeios de bicicleta pelos interiores do Pará, passei a notar o quão triste é ler um tópico "trilha do dia xx/xx/xxxx" e logo em seguida uma enxurrada de "selfies" onde mal dá pra notar árvores, bikes ou chão com lama e terra batida.

Decidido a correr para longe desse cenário orgulhoso todo, passei a estudar um pouco de fotografia e a ser a pessoa atrás dos cliques, acredito estar no caminho certo: