Montando a primeira bicicleta IV - Transmissão


Se estivesse falando de um carro (ou ônibus, caminhões, motos e etc), poderia dizer que quanto mais marchas, melhor o desempenho, menor o consumo de combustível e logicamente maior o número de variações de força com as quais o motor vai trabalhar; no caso dos ciclistas, não se economiza gasolina e sim "pernas", mas teoricamente segue a mesma lógica de carros; em uma subida, pode-se escolher uma marcha mais leve para amenizar o esforço e desgaste e em uma descida, pode-se colocar uma marcha mais pesada para mais velocidade por exemplo.
Logicamente marchas não se resumem apenas à "alavanquinhas" no guidão...trata-se na verdade de um conjunto com diversas peças que é responsável por gerar e otimizar o movimento da bicicleta, transmitindo a força produzida pelo ciclista nos pedais para a roda da bicicleta. Este conjunto (ou grupo ou relação ou ainda transmissão) é composto de pedivela e movimento central (lá do bicicletês, a peça que gira e tem os pedais), cassete (ou catraca/pinhão para os mais antigos), corrente, câmbios traseiro e dianteiro, e passadores (alavanca que fica no guidão para trocar as marchas).


Transmissão simples

Observe no desenho que a coroa da bicicleta é maior que a catraca. Como o pedal fica preso na coroa, quando ele dá uma volta completa, a coroa faz o mesmo. Mas… numa pedalada completa, a catraca dá algumas voltas a mais por ser menor que a coroa. Isso faz com que os pneus também girem mais rápido que a coroa, aumentando a velocidade da bicicleta.


Número de marchas


O número total de marchas de uma transmissão nada mais é do que o número de possíveis combinações entre coroas e catracas.


Exemplo de grupo de transmissão com 10 velocidades

No exemplo ilustrado acima, a relação possui duas coroas e cinco catracas, o que resulta em 10 possíveis combinações de marchas, logo, o sistema é rotulado como 10 velocidades. 
Quanto maior a coroa, maior também será o esforço que as pernas devem fazer para dar uma volta completa nos pedais, porém, maior a velocidade a ser atingida também; inversamente ao funcionamento das coroas, quanto menor a catraca, maior o esforço e quanto maior, menos força se usa para completar uma volta.
Conhecendo o funcionamento de coroas e catracas, é possível escolher qual a melhor combinação de acordo com a situação a ser superada. Em uma subida por exemplo, usa-se coroa pequena com catraca grande; já em terrenos planos, uma combinação média, e por ai vai.


Cruzamento de câmbio


Engana-se quem pensa que quanto mais marchas melhor, pois apesar de conter possíveis 27 combinações entre catraca/cassete e coroa por exemplo, na prática esta bike contém apenas 15 marchas utilizáveis, isto ocorre devido ao posicionamento "incorreto" da corrente, podendo ficar "raspando" no cambio dianteiro ou na coroa, além claro de ter um tencionamento também ruim, podendo comprometer a durabilidade dos componentes do grupo de transmissão:




Para um grupo de transmissão de 27V (3X9), tem-se na prática as seguintes combinações sem prejudicar a corrente ou os câmbios: 


Logicamente a industria viu o problema do "excesso" de marchas e trabalhou (e ainda trabalha) para evitar o câmbio cruzado, então, é possível encontrar no mercado pedivelas com 3 coroas, 2 coroas e 1 coroa (o preço sobe exponencialmente da esquerda para a direita), cada uma com uma capacidade máxima de combinar com cassetes, na hora de comprar inclusive, é comum encontrar a descrição de pedivelas da seguinte maneira: 2x10 (indicando que ela pode realizar até 20 combinações, possui 2 coroas e suporta cassetes com 10 catracas), 3x10 (30 combinações), 1x11 (isso mesmo, apenas 11 combinações) e assim por diante.

Grupos de transmissão


Se você já pesquisou na internet ou foi a um bike shop procurando por "marchas", deve ter sacado que o jogo completo de transmissões recebe o nome resumido de "grupo". É possível adquirir separadamente as peças que constituem uma transmissão, porém há um risco muito grande de dor de cabeça, uma vez que existem diversos fabricantes e até mesmo vários tipos de grupos produzidos por um mesmo fabricante...o nome "grupo" aliás, já dá a entender de algo fechado ou que funciona melhor com itens do mesmo grupo.
Logo, se você comprou ou pensa em comprar um grupo de fabricante A,B ou C, saiba o que deve vir ou ir atrás:

Pedivela e movimento central


Pedivela triplo com movimento externo
Pedivelas podem ser simples, duplos ou triplos, dependendo do número de coroas contidas nele, tem variações no número de dentes em cada coroa (e consequentemente no diâmetro também); podem variar também o tamanho dos braços. Já o movimento central, tem de tudo quanto é tipo, geralmente acompanha o pedivela na hora da compra...mas, caso seja necessário trocar, deve-se atentar à compatibilidade com o pedivela e o quadro

Tipos de movimento central. Créditos www.pedal.com.br

Câmbios




Com nome já auto-explicativo, têm a função de trocar a posição da corrente entre coroa ou catracas; podem ser câmbios traseiros ou câmbios dianteiro; cada modelo de cambio possui uma capacidade máxima para trocas. Vale lembrar que uma relação com pedivelas simples não possuem cambio dianteiro, uma vez que não existe a necessidade de trocas entre coroas. Na hora da compra, deve-se verificar a compatibilidade dos câmbios com o quadro da bike, em especial do cambio dianteiro.


Cassete


Trata-se de um conjunto de catracas sobrepostas que comumente lembra um pinhão. Deve-se atentar na hora da compra a compatibilidade do cassete com o cambio traseiro e com o cubo traseiro. Assim como ocorre com pedivelas, cassetes podem variar em diâmetro e número de dentes.

Corrente


Para suportar, tantas trocas de marchas, atrito e tensão; é bom pensar com muito carinho neste item, pois muitos sistemas de transmissão caem (literalmente) por mal uso da corrente. Na hora da aquisição, é bom conferir se a corrente foi feita para suportar adequadamente o número de marchas do grupo de transmissão.

Passadores



São as alavanquinhas no guidão responsáveis em enviar os comandos de troca de velocidade; também seguem a regra do restante dos componentes, devem ser compatíveis com o número de velocidades do grupo. Podem ter vários formatos, podem ter display mostrando a combinação de marchas e podem ainda estar integrados com os comandos dos freios (bom e bonito, mas a manutenção é mais chata também).






O que mais considerar?


Além de reduzir câmbios cruzados, grupos com menos coroas tendem a ser mais leves e algumas vezes mais trabalhados, o que deixar alguns grupos muitíssimo mais caros também. Para iniciantes e entusiastas, um quilo e/ou algumas gramas a mais ou a menos dificilmente são notados, porém a nível profissional, faz toda diferença. Dai vem a boa e velha equação para pobres mortais: objetivo + custo/benefício + dinheiro disponível...

History so far...




Testando a magrela

Escolhi uma relação de 24V, um grupo shimano altus. Trata-se de um grupo de entrada, porém não tão básico quanto um tourney da vida, não tem tantos câmbios cruzados e tem um bom custo-benefício para algumas pedaladas de final de semana ou trilha leves ou intermediárias, dá mais do que suficiente.

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